Desde a Ascensão
de Cristo em 30, até ao Martírio de Paulo em 68.
A IGREJA DO PERÍODO PENTECOSTAL
A igreja cristã em todas as épocas, quer na passada, presente ou
futura, é formada por todos aqueles que creem em Jesus de Nazaré, o Filho de
Deus. No ato de crer está implícita a aceitação de Cristo por seu Salvador
pessoal, para obedecer-lhe como a Cristo, o Príncipe do reino de Deus sobre a
terra.
A igreja de Cristo iniciou sua história com um movimento de
caráter mundial, no Dia de Pentecoste, no fim da primavera do ano 30, cinquenta
dias após a ressurreição do Senhor Jesus, e dez dias depois de sua ascensão
ao céu.
Durante o tempo em que Jesus exerceu seu ministério, os discípulos
criam que Jesus era o almejado Messias de Israel, o Cristo. Ora, Messias e
Cristo são palavras idênticas. Messias é palavra hebraica e Cristo é palavra
grega. Ambas significam "O Ungido", o "Príncipe do Reino
Celestial". Apesar de Jesus haver aceito esse título de seus seguidores
mais chegados, proibiu-lhes, contudo, proclamarem essa verdade entre o povo,
antes que ele ressuscitasse de entre os mortos, e nos quarenta dias que
precederam sua ascensão, isto é, até quando lhes ordenou pregassem o Evangelho.
Mas deviam esperar o batismo do Espírito Santo, para então serem testemunhas
em todo o mundo.
Na manhã do Dia de Pentecoste, enquanto os seguidores de Jesus,
cento e vinte ao todo, estavam reunidos, orando, o Espírito Santo veio sobre
eles de forma maravilhosa. Tão real foi aquela manifestação, que foram vistas
descer do alto, como que línguas de fogo, as quais pousaram sobre a cabeça de
cada um. O efeito desse acontecimento foi tríplice:
a) Iluminou as mentes dos discípulos, dando-lhes um novo
conceito do reino de Deus.
b) Compreenderam que esse reino não era um império político mas
um reino espiritual, na pessoa de Jesus ressuscitado, que governava de modo
invisível a todos aqueles que o aceitavam pela fé.
c) Aquela manifestação revigorou a todos, repartindo com eles o
fervor do Espírito, e o poder de expressão que fazia de cada testemunho um
motivo de convicção naqueles que os ouviam.
O Espírito Santo, desde então, ficou morando permanentemente na igreja, não em sua
organização ou mecanismo, mas como possessão individual e pessoal do verdadeiro
cristão. Desde o derramamento do Espírito Santo, naquele dia, a comunidade
daqueles primeiros anos foi chamada com muita propriedade, "Igreja
Pentecostal".
A igreja teve seu início na cidade de Jerusalém.
Evidentemente, nos primeiros anos de sua história, as atividades
da igreja limitaram-se àquela cidade e arredores. Em todo o país,
especialmente na província setentrional da Galiléia, havia grupos de pessoas
que criam em Jesus como o Rei-Messias, porém não chegaram até nós dados ou
informações de nenhuma natureza que indiquem a organização, nem o
reconhecimento de tais grupos como igreja. As sedes gerais da igreja daquela
época eram o Cenáculo, no Monte de Sião, e o Pórtico de Salomão, no Templo.
Todos os membros da Igreja Pentecostal eram judeus. Tanto
quanto podemos perceber, nenhum dos seus membros, bem como nenhum dos
integrantes da companhia apostólica, a princípio, podia crer que os gentios
fossem admitidos como membros da igreja. Quando muito admitiam que o mundo
gentio se tornaria judeu, para depois aceitar a Cristo. Os judeus da época
dividiam-se em três classes, e as três estavam representadas na igreja de
Jerusalém. Os hebreus eram aqueles cujos antepassados haviam habitado a Palestina
durante várias gerações; eram eles a verdadeira raça israelita. Seu idioma era
chamado "língua hebraica", a qual, no decorrer dos séculos, havia
mudado de hebraico clássico do Antigo Testamento para o dialeto que se chamava
aramaico ou siro-caldaico. As Escrituras eram lidas nas sinagogas em hebreu
antigo, porém eram traduzidas por um intérprete, frase por frase, em linguagem
popular. Os judeus gregos ou helenistas eram descendentes dos judeus da
dispersão, isto é, judeus cujo lar ou cujos antepassados estavam em terras
estrangeiras. Muitos desses judeus haviam-se estabelecido em Jerusalém ou na
Judéia e haviam formado sinagogas para atender a suas várias nacionalidades.
Depois da conquista do Oriente por Alexandre o Grande, o grego
chegou a ser o idioma predominante em todos os países a este do Mar Adriático e
até mesmo em Roma e por toda a Itália. Por essa razão os judeus de ascendência
estrangeira eram chamados "gregos" ou "helenistas" apesar
de a palavra "heleno" referir-se a grego. Os judeus-helenistas, como
povo, fora da Palestina, eram o ramo da raça judaica mais numerosa, mais rica,
mais inteligente e mais liberal.
Os prosélitos eram pessoas não descendentes de judeus, as quais
renunciavam ao paganismo, aceitavam a lei judaica e passavam a pertencer à
igreja judaica, recebendo o rito da circuncisão. Apesar de serem uma minoria
entre os judeus, os prosélitos eram encontrados em muitas sinagogas em todas
as cidades do Império Romano e gozavam de todos os privilégios do povo judeu.
Os prosélitos não devem ser confundidos com "os devotos" ou
"tementes a Deus"; estes eram gentios, que deixaram de adorar os
ídolos e frequentavam as sinagogas, porém não participavam da circuncisão, nem
se propunham observar as minuciosas exigências das leis judaicas. Por essa
razão não eram considerados judeus, apesar de se mostrarem amigos deles.
A leitura dos primeiros seis capítulos do livro dos Atos dos
Apóstolos dá a entender que durante esse período o apóstolo Simão Pedro era o
dirigente da igreja. Em todas as ocasiões era Pedro quem tomava a iniciativa de
pregar, de operar milagres e de defender a igreja que então nascia. Isso não
significa que Pedro fosse papa ou dirigente oficial nomeado por Deus. Tudo
acontecia como resultado da prontidão de Pedro em decidir, de sua facilidade de
expressão e de seu espírito diretivo. Ao lado de Pedro, o homem prático,
encontramos João, o homem contemplativo e espiritual, que raramente falava,
porém tido em grande estima pelos crentes.
Em uma igreja comparativamente pequena em número, todos da
mesma raça, todos obedientes à vontade do Senhor, todos na comunhão do Espírito
de Deus, pouco governo humano era necessário. Esse governo era administrado
pelos doze, os quais atuavam como um só corpo, sendo Pedro apenas o porta-voz.
Uma frase que se lê em Atos 5:13 indica o alto conceito em que eram tidos os
apóstolos, tanto pelos crentes como pelo povo.
No início, a teologia ou crenças da igreja eram simples. A
doutrina sistemática foi desenvolvida mais tarde por meio de Paulo. Entretanto,
podemos encontrar nos sermões de Pedro três pontos doutrinários considerados
essenciais. O primeiro ponto, o maior, era o caráter messiânico de Jesus, isto
é, que Jesus de Nazaré era o Messias, o Cristo durante tanto tempo esperado por
Israel, e que agora reinava no reino invisível do céu, e ao qual todos os
membros da igreja deviam demonstrar lealdade pessoal, reverência e obediência.
Outra doutrina essencial era a ressurreição de Jesus. Em outras palavras, que
Jesus fora crucificado, ressuscitado dos mortos e agora estava vivo, como
cabeça da igreja, para nunca mais morrer. A terceira das doutrinas cardiais,
contidas nos discursos de Pedro, era a segunda vinda de Jesus. Isto é, o mesmo
Jesus que foi elevado ao céu, no tempo determinado voltaria à terra, para
reinar com sua igreja. Apesar de Jesus haver declarado aos discípulos que
nenhum homem nem anjo algum sabia quando se daria a sua vinda, era geral a
expectação de que a vinda de Cristo poderia ocorrer a qualquer momento, naquela
geração.
A arma usada pela igreja, através da qual havia de levar o mundo
aos pés de Cristo, era o testemunho de seus membros. Dado que temos registrados
vários discursos ou pregações de Pedro, e nenhum dos outros discípulos, nesse
período, pode-se pensar que Pedro era o único pregador. Contudo, a leitura
cuidadosa da História demonstra que todos os apóstolos e toda a igreja davam
testemunho do Evangelho. Quando a igreja possuía cento e vinte membros, o
Espírito desceu sobre eles e todos se transformaram em pregadores da Palavra.
Enquanto o número de membros aumentava, aumentavam as testemunhas, pois cada
membro era um mensageiro de Cristo, sem que houvesse distinção entre clérigos e
leigos. No fim desse período, encontramos Estêvão elevando-se a tal eminência
como pregador, que os próprios apóstolos ficam ofuscados. Esse testemunho
universal foi uma influência poderosa no crescimento rápido da igreja.
Inicialmente, o grandioso esforço desse punhado de homens de
visão necessitava de auxílio sobrenatural, uma vez que se propunha, sem armas
materiais nem prestígio social, transformar uma nação, tendo de enfrentar
também os poderes da igreja nacional e do Estado. Esse auxílio sobrenatural
manifestou-se na forma de operação de maravilhas. Os milagres apostólicos foram
considerados como "os sinos que chamam o povo à adoração". Lemos no
livro dos Atos dos Apóstolos sobre a cura do coxo que estava à porta Formosa.
Esse milagre atraiu a multidão para ouvir a Pedro e aceitar a Cristo. Logo
depois está descrita a morte de Ananias e Safira, ao serem repreendidos por
Pedro por causa do egoísmo e da falsidade. Esse julgamento da parte de Deus foi
uma advertência a quantos tiveram conhecimento dos fatos. A esses milagres
seguiram-se outros que incluíam cura de enfermidades. Contudo, esse poder não
estava limitado a Pedro nem aos apóstolos. Está escrito que "prodígios e
milagres" eram realizados por Estêvão. Essas obras poderosas atraíam a
atenção do povo, motivavam investigação e abriam os corações das multidões,
para receberam a fé em Cristo.
O amor de Cristo ardia no coração daqueles homens e os
constrangia a mostrarem esse amor para com seus condiscípulos, a viver em
unidade de espírito, em gozo e comunhão, e, especialmente, a demonstrar
interesse e abnegação pelos membros da igreja que necessitavam de socorros
materiais. Lemos no livro dos Atos dos Apóstolos que os mais ricos davam suas
propriedades, de forma tão liberal, que leva a sugerir (apenas leva a sugerir
como vimos em outra ajuda ebdareiabranca) o socialismo radical na comunhão de
bens.
No entanto, é bom notar, que quanto a esse aspecto da Igreja
Pentecostal, tudo era feito voluntariamente, ninguém era compelido pela lei ou
pela exigência dos pobres em tomar as propriedades dos ricos. Os ricos davam
voluntariamente. Deve considerar-se ainda que: foi uma experiência em uma
pequena comunidade onde todos estavam juntos; naquela comunidade selecionada
todos estavam cheios do Espírito Santo, aspirando, todos eles, em seu caráter,
a executar os princípios do Sermão do Monte; a experiência surgiu com a
expectativa da iminente volta de Jesus, quando então os bens terrenos não mais
seriam necessários; como experiência financeira foi um fracasso, e logo
abandonada, pois a igreja em Jerusalém ficou tão pobre, que durante uma geração
se recolhiam ofertas nas outras igrejas para ajudá-la; o sistema provocou seus
próprios males morais, pois despertou o egoísmo de Ananias e Safira. Na
verdade, enquanto estamos sobre a terra somos influenciados pelo interesse
próprio e pela necessidade. O espírito dessa dádiva liberal é digno de elogios,
porém o plano, ao que tudo indica, não foi muito acertado.
De modo geral, a Igreja Pentecostal não tinha faltas. Era
poderosa na fé e no testemunho, pura em seu caráter, e abundante no amor. Entretanto,
o seu singular defeito era a falta de zelo missionário. Permaneceu em seu
território, quando devia ter saído para outras terras e outros povos. Foi
necessário o surgimento da severa perseguição, para que se decidisse a ir a
outras nações a desempenhar sua missão mundial. E assim aconteceu mais tarde.
A EXPANSÃO DA IGREJA
Entramos agora em uma época da história da igreja cristã, que,
apesar de curta — apenas quinze anos — é de alta significação. Nessa época
decidiu-se a importantíssima questão: se o Cristianismo devia continuar como
uma obscura seita judaica, ou se devia transformar-se em igreja cujas portas
permanecessem para sempre abertas a todo o mundo. Quando se iniciou este
período, a proclamação do evangelho estava limitada à cidade de Jerusalém e às
aldeias próximas; os membros da igreja eram todos israelitas por nascimento ou
por adoção. Quando terminou, a igreja já se havia estabelecido na Síria, na
Ásia Menor e havia alcançado a Europa. Além disso, os membros da igreja agora
não eram exclusivamente judeus; em alguns casos predominavam os gentios. O
idioma usado nas assembleias na Palestina era o hebraico ou aramaico, porém, em
outras regiões bem mais povoadas o idioma usado era o grego. Estudemos as
épocas sucessivas desse movimento em expansão.
Na igreja de Jerusalém surgiu uma queixa contra o critério
adotado na distribuição de auxílios aos pobres, pois as famílias dos
judeus-gregos ou helenistas eram prejudicadas. Os apóstolos convocaram a igreja
e propuseram a escolha de uma comissão de sete homens para cuidarem dos
assuntos de ordem material. Esse plano foi adotado, e os sete foram escolhidos,
figurando em primeiro lugar o nome de Estêvão, "homem cheio de fé e do
Espírito Santo". Apesar de haver sido escolhido para um trabalho secular,
bem depressa atraiu as atenções de todos para o seu trabalho de pregador. Da
acusação levantada contra ele, quando foi preso pelas autoridades judaicas, e
da sua mensagem de defesa, é evidente que Estêvão proclamou a Jesus Cristo como
Salvador, não somente para os judeus, mas também para os gentios. Parece que
Estêvão foi o primeiro membro da igreja a ter a visão do evangelho para o mundo
inteiro, e esse ideal levou-o ao martírio.
Entre aqueles que ouviram a defesa de Estêvão, e que se
encolerizaram com suas palavras sinceras, mas incompatíveis com a mentalidade
judaica daqueles dias, estava um jovem de Tarso, cidade das costas da Ásia
Menor, chamado Saulo. Esse jovem havia sido educado sob a orientação do famoso
Gamaliel, conhecido e respeitado intérprete da lei judaica. Saulo participou
do apedrejamento de Estêvão, e logo a seguir fez-se chefe de terrível e
obstinada perseguição contra os discípulos de Cristo, prendendo e açoitando
homens e mulheres. A igreja em Jerusalém dissolveu-se nessa ocasião, e seus
membros dispersaram-se por vários lugares. Entretanto, onde quer que
chegassem, a Samaria ou a Damasco, ou mesmo a longínqua Antioquia da Síria,
eles se constituíam em pregadores do evangelho e estabeleciam igrejas. Dessa
forma o ódio feroz de Saulo era um fator favorável à propagação do evangelho e
da igreja.
Na lista dos sete nomes escolhidos para administrarem os bens da
igreja, além de Estêvão, encontramos também Filipe, um dos doze apóstolos (?
Depois descobrimos que era outro Filipe e não o apostolo). Depois da morte de
Estêvão, Filipe refugiou-se entre os samaritanos, um povo misto, que não era
judeu nem gentio, e por isso mesmo desprezado pelos judeus. O fato
significativo de Filipe começar a pregar o evangelho aos samaritanos demonstra
que ele se havia libertado do preconceito dos judeus. Filipe estabeleceu uma
igreja em Samaria, a qual foi reconhecida pelos apóstolos Pedro e João. Foi
essa a primeira igreja estabelecida fora dos círculos judaicos; contudo não era
exatamente uma igreja composta de membros genuinamente gentios. Mais tarde
encontramos Filipe a pregar e a estabelecer igrejas nas cidades costeiras de
Gaza, Jope e Cesaréia. Essas eram consideradas cidades gentias, porém todas
possuíam densa população judaica. Nessas cidades, forçosamente, o evangelho
teria de entrar em contato com o mundo pagão.
Em uma de suas viagens relacionadas com a inspeção da igreja,
Pedro chegou a Jope, cidade situada no litoral. Ali, Tabita ou Dorcas foi
ressuscitada. Nessa cidade Pedro permaneceu algum tempo em companhia do outro
Simão, o curtidor. O fato de Pedro, sendo judeu, permanecer em companhia de um
curtidor significa que Pedro se libertara das restritas regras dos costumes
judeus, pois todos os que tinham o ofício de curtidor eram considerados
"imundos" pela lei cerimonial. Foi em Jope que Pedro teve a visão do
que parecia ser um grande lençol que descia, no qual havia de todos os animais,
e foi-lhe dirigida uma voz que dizia: "Não faças tu imundo ao que Deus
purificou." Nessa ocasião chegaram a Jope mensageiros vindos de Cesaréia,
que fica cerca de quarenta e oito quilômetros ao norte, e pediram a Pedro que
fosse instruir a Cornélio, um oficial romano temente a Deus.
Pedro foi a Cesaréia sob a direção do Espírito, pregou o
evangelho a Cornélio e aos que estavam em sua casa, e os recebeu na igreja
mediante o batismo. O Espírito de Deus sendo derramado como no dia de
Pentecoste, testificou sua aprovação divina. Dessa forma foi divinamente
sancionada a pregação do evangelho aos gentios e sua aceitação na igreja.
Nessa época, possivelmente um pouco antes de Pedro haver
visitado Cesaréia, Saulo, o perseguidor, foi surpreendido no caminho de Damasco
por uma visão de Jesus ressuscitado. Saulo, que fora o mais temido perseguidor
do evangelho, converteu-se em seu mais ardoroso defensor. Sua oposição fora
dirigida especialmente contra a doutrina que eliminava a barreira entre judeus
e gentios. Entretanto, quando se converteu, Saulo adotou imediatamente os
mesmos conceitos de Estêvão, e tornou-se ainda maior que Estêvão, na ação de
fazer prosperar o movimento de uma igreja universal, cujas portas estivessem
abertas a todos os homens, quer fossem judeus, quer fossem gentios. Em toda a
história do Cristianismo, nenhuma conversão a Cristo trouxe resultados tão
importantes e fecundos para o mundo inteiro como a conversão de Saulo, o
perseguidor, e mais tarde o apóstolo Paulo.
Na perseguição iniciada com a morte de Estêvão, a igreja em
Jerusalém dispersou-se por toda parte. Alguns de seus membros fugiram para
Damasco; outros foram para Antioquia da Síria, distante cerca de 480
quilômetros. Em Antioquia os fugitivos frequentavam as sinagogas judaicas e
davam seu testemunho de Jesus, como sendo o Messias. Em todas as sinagogas
havia um local separado para os adoradores gentios; muitos destes ouviram o
evangelho em Antioquia e aceitaram a fé em Cristo. Dessa forma floresceu uma
igreja em Antioquia, na qual judeus e gentios adoravam juntamente e desfrutavam
o mesmo privilégio. Quando as notícias desses fatos chegaram a Jerusalém, a
igreja ficou alarmada e enviou um representante para examinar as relações dos
judeus com os gentios.
Felizmente, e para o bem de todos, a escolha do representante
recaiu sobre Barnabé, homem de ideias liberais, coração grande e generoso.
Barnabé foi a Antioquia, observou as condições, e, em lugar de condenar a
igreja local por sua liberalidade, alegrou-se com essa circunstância, endossou
a atitude dos crentes dali e permaneceu em Antioquia a fim de participar
daquele movimento. Anteriormente Barnabé havia manifestado sua confiança em
Saulo. Desta vez Barnabé viajou para Tarso, cerca de 160 quilómetros de
distância, trouxe consigo para Antioquia a Paulo, e fê-lo seu companheiro na
obra do evangelho. A igreja em Antioquia, com esses reforços, elevou-se a tal
proeminência, que ali, pela primeira vez, os seguidores de Cristo foram
chamados "cristãos", nome dado não pelos judeus mas pelos gregos, e
somente três vezes mencionado no Novo Testamento. Os discípulos de Antioquia
enviaram auxílio aos crentes pobres da Judéia, no tempo da fome, e seus
dirigentes foram figuras eminentes da igreja primitiva.
Até então, os membros gentios da igreja eram somente aqueles que
espontaneamente a procuravam. Daí em diante, sob a direção do Espírito Santo e
de acordo com os anciãos, os dois dirigentes de maior destaque na igreja de
Antioquia foram enviados em missão evangelizadora a outras terras, pregando
tanto para judeus como para gentios. Na história da primeira viagem missionária
notamos certas características que se tornaram típicas em todas as viagens
posteriores de Paulo. Essa viagem foi realizada por dois obreiros.
Inicialmente menciona-se "Barnabé e Saulo", depois "Paulo e
Barnabé", e finalmente, Paulo e seus companheiros, apontando Paulo como
líder espiritual.
Em relação à mudança do nome de Saulo pode-se explicar da
seguinte forma: Era comum naqueles dias um judeu usar dois nomes; um entre os
israelitas e outro entre os gentios. Os dois missionários levaram como auxiliar
um homem mais jovem chamado João Marcos, o qual os abandonou em meio à viagem.
Eles escolheram como principal campo de trabalho as grandes cidades, visitando
Salamina ePafos, na Ilha de Chipre; Antioquia e Icônio, na Pisídia; Listra e
Derbe, na Licaônia.
Sempre que lhes era possível, iniciavam o trabalho de
evangelização pregando nas sinagogas, pois nelas todos os judeus tinham o
direito de falar; tratando-se de um mestre reputado como era Paulo, que havia
cursado a famosa escola de Gamaliel, era sempre bem recebido. Além disso, por
meio das sinagogas, não só anunciavam o evangelho aos judeus tementes a Deus
mas também aos gentios, igualmente religiosos. Em Derbe, a última cidade
visitada, estavam bem próximos de Antioquia, onde haviam iniciado a viagem. Em
lugar de passarem pelas Portas da Cilicia e regressarem a Antioquia, tomaram a
direção oeste e voltaram pelo caminho que haviam percorrido, visitando
novamente as igrejas que haviam fundado em sua primeira viagem e nomeando
anciãos, de acordo com o costume usado nas sinagogas. Em todas as viagens que o
apóstolo Paulo fez mais tarde, o mesmo método de trabalho foi posto em prática.
Em todas as sociedades ou comunidades organizadas, há sempre
duas classes de pessoas: os conservadores, olhando para o passado; e os progressistas,
olhando para o futuro. Assim aconteceu naqueles dias. Os elementos ultra judeus
da igreja sustentavam que não podia haver salvação fora de Israel. Por essa
razão, diziam, todos os discípulos gentios deviam ser circuncidados e observar
a lei judaica.
Entretanto os mestres progressistas, encabeçados por Paulo e
Barnabé, declaravam que o evangelho era para os judeus e para os gentios, sobre
a mesma base da fé em Cristo, sem levar em conta as leis judaicas. Entre esses
dois grupos surgiu então uma controvérsia que ameaçou dividir a igreja.
Finalmente, realizou-se um concílio em Jerusalém para resolver o problema das
condições dos membros gentios e estabelecer regras para a igreja no futuro.
Convém registrar que nesse concílio estiveram representados não somente os
apóstolos, mas também os anciãos e "toda a igreja". Paulo e Barnabé,
Pedro e Tiago, irmão do Senhor, participaram dos debates. Chegou-se, então, a
esta conclusão: a lei alcançava somente os judeus e não os gentios crentes em Cristo.
Com essa resolução completou-se o período de transição de uma igreja cristã
judaica para uma igreja de todas as raças e nações. O evangelho podia, agora,
avançar em sua constante expansão.
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