APOS O PENTECOSTES
A palavra igreja vem do grego ekklesia, que tem origem em kaleo
("chamo ou convosco"). Na literatura secular, ekklesia referia-se a
uma assembléia de pessoas, mas no Novo Testamento (NT) a palavra tem sentido
mais especializado. A literatura secular podia usar a apalavra ekklesia para
denotar um levante, um comício, uma orgia ou uma reunião para qualquer outra
finalidade. Mas o NT emprega ekklesia com referência à reunião de crentes
cristãos para adorar a Cristo.
Que é a igreja? Que pessoas constituem esta "reunião"?
Que é que Paulo pretende dizer quando chama a igreja de "corpo de
Cristo"?
Para responder plenamente a essas perguntas, precisamos entender
o contexto social e histórico da igreja do NT. A igreja primitiva surgiu no cruzamento das culturas
hebraicas e helenística.
Fundada a Igreja
Quarenta dias depois de sua ressurreição, Jesus deu instruções
finais aos discípulos e ascendeu ao céu (At 1.1-11). Os discípulos voltaram a
Jerusalém e se recolheram durante alguns dias para jejum e oração, aguardando o
ES, o qual Jesus disse que viria. Cerca de 120 pessoas seguidores de Jesus
aguardavam.
Cinqüenta dias após a Páscoa, no dia de Pentecoste, um som como
um vento impetuoso encheu a casa onde o grupo se reunia. Línguas de fogo
pousaram sobre cada um deles e começaram a falar em línguas diferente da sua
conforme o Espírito Santo os capacitava. Os visitantes estrangeiros ficaram
surpresos ao ouvir os discípulo falando em suas próprias línguas. Alguns
zombaram, dizendo que deviam estar embriagados (At 2.13).
Mas Pedro fez calar a multidão e explicou que estavam dando
testemunho do derramamento do Espírito Santo predito pelos profetas do Antigo
Testamento (AT) (At 2.16-21; Jl 2.28-32). Alguns dos observadores estrangeiros
perguntaram o que deviam fazer para receber o Espírito Santo. Pedro disse: "
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para
remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo " (At
2.38).
Cerca de 3 mil pessoas aceitaram a Cristo como seu Salvador
naquele dia (Atos 2.41).
Durante alguns anos Jerusalém foi o centro da igreja. Muitos
judeus acreditavam que os seguidores de Jesus eram apenas outra seita do
judaísmo. Suspeitavam que os cristãos estavam tentando começar um nova
"religião de mistério" em torno
de Jesus de Nazaré.
É verdade que muitos dos cristãos primitivos continuaram a
cultuar no templo (At 3.1) e alguns insistiam em que os convertidos gentios
deviam ser circuncidados (At 15). Mas os dirigentes judeus logo perceberam que
os cristãos eram mais do que uma seita. Jesus havia dito aos judeus que Deus
faria uma Nova Aliança com aqueles que lhe fossem fiéis (Mt 16.18); ele havia selado esta aliança com seu próprio
sangue (Lc 22.20). De modo que os cristãos primitivos proclamavam com ousadia haverem
herdados os privilégios que Israel
conhecera outrora. Não eram simplesmente uma parte de Israel - eram o novo
Israel (Ap 3.12; 21.2; Mt 26.28; Hb 8.8; 9.15). "Os líderes judeus tinham
um medo de arrepiar, porque este novo e estranho ensino não era um judaísmo
estreito, mas fundia o privilégio de Israel na alta revelação de um só Pai de
todos os homens." (Henry Melvill Gwatkin, Early Church
History, pag 18).
a) A Comunidade de Jerusalém.
Os primeiros cristãos formavam uma comunidade estreitamente
unida em Jerusalém após o dia de Pentecoste. Esperavam que Cristo voltasse
muito em breve.
Os cristãos de Jerusalém repartiam todos os seus bens materiais
(At 2.44-45). Muitos vendiam suas propriedades e davam à igreja o produto da
venda, a qual distribuía esses recursos entre o grupo ( At 4.34-35).
Os cristãos de Jerusalém ainda iam ao templo para orar (At
2.46), mas começaram a partilhar a Ceia
do Senhor em seus próprios lares (At 2.42-46). Esta refeição simbólica
trazia-lhes à mente sua nova aliança com Deus, a qual Jesus havia feito sacrificando
seu próprio corpo e sangue.
Deus operava milagres de cura por intermédio desses primeiros
cristãos. Pessoas enfermas reuniam-se no templo de sorte que os apóstolo
pudessem tocá-las em seu caminho para a oração (At 5.12-16). Esses milagres
convenceram muitos de que os cristãos estavam verdadeiramente servindo a Deus.
As autoridades do templo, num esforço por suprimir o interesse das pessoas na
nova religião, prenderam os apóstolos. Mas Deus enviou um anjo para libertá-los
(At 5.17-20), o que provocou mais
excitação.
A igreja crescia com tanta rapidez que os apóstolos tiveram de
nomear sete homens para distribuir víveres às viúvas necessitadas. O dirigente
desses homens era Estevão, "homem cheio de fé e do Espírito Santo" (At 6.5). Aqui vemos o
começo do governo eclesiástico. Os apóstolos tiveram de delegar alguns de seus
deveres a outros dirigentes. À medida que o tempo passava, os ofícios da igreja
foram dispostos numa estrutura um tanto complexa.
b) O Assassínio de Estevão.
Certo dia um grupo de judeus apoderou-se de Estevão e,
acusando-o de blasfêmia, o levou à presença do conselho do sumo sacerdote.
Estevão fez uma eloqüente defesa da fé cristã, explicando como Jesus cumpriu as
antigas profecias referentes ao Messias que libertaria seu povo da escravidão
do pecado. Ele denunciou os judeus como "traidores e assassinos" do
filho de Deus (At 7.52). Erguendo os olhos para o céu, ele exclamou que via a
Jesus em pé à destra de Deus ( At 7.55). Isso enfureceu os judeus, que o
levaram para fora da cidade e o apedrejaram (At 7.58-60).
Esse fato deu início a uma onde de perseguição que levou muitos
cristãos a abandonarem Jerusalém (At 8.1). Alguns desses cristãos
estabeleceram-se entre os gentios de Samaria, onde fizeram muitos convertidos
(At 8.5-8). Estabeleceram congregações em diversas cidades gentias, como
Antioquia da Síria. A princípio os cristãos hesitavam em receber os gentios na
igreja, porque eles viam a igreja como um cumprimento da profecia judaica. Não
obstante, Cristo havia instruído seus seguidores a fazer "discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo" (Mt 28.19). Assim, a conversão dos gentios foi "tão-somente o
cumprimento da comissão do Senhor, e o resultado natural de tudo o que havia
acontecido..." (Gwatkin, Early Church History, p. 56). Por conseguinte, o
assassínio de Estevão deu início a uma era de rápida expansão da igreja.
No mesmo dia em que Estêvão foi apedrejado, levantou-se grande
perseguição à igreja. O povo havia sido agitado pelos membros da sinagoga no
dia anterior, quando acusaram Estêvão injustamente de blasfêmia. Ao ser, em
seguida, condenado pelo Sinédrio, começaram a perseguir todos os da igreja de
Cristo, da qual ele era diácono.Os fariseus desta vez haviam se juntado aos
saduceus na condenação, e entre eles figurava o jovem Saulo, que havia
assistido e aprovado com prazer a execução de Estêvão. Ele agora liderava a
perseguição da igreja, levado pelo seu zelo para com Deus (Filipenses 3:6),
algemando e metendo em prisões tanto homens quanto mulheres (cap. 22:3,4).Paulo
lamentou ter feito tal coisa, depois que percebeu o terrível engano que havia
cometido (1 Coríntios 15:9), mas a morte de Estêvão, e a perseguição que se
seguiu, desencadeou o movimento que espalhou a igreja pelas regiões da Judéia e
de Samaria e "os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a
Palavra".
Curiosamente, sem o saber, ao invés de dar término à crescente
igreja de Cristo, Saulo foi instrumental para que a sua expansão através da
Judéia, e da Samaria se desse naquela ocasião. Pouco depois ele se renderia a
Cristo, seria nomeado apóstolo pelo Senhor Jesus e enviado ao mundo gentío com
o nome de Paulo.Muito mais tarde, sofrendo ele próprio a prisão em Roma por
causa do seu testemunho cristão, Paulo declarou que as coisas que lhe
aconteceram contribuíram para o progresso do Evangelho, pois se tornou
manifesto a toda a guarda pretoriana e a todos os demais que era por Cristo que
ele estava em prisões (Filipenses 1:12, 13). Muitas vezes o que nos parece uma
derrota em nosso testemunho, na realidade é a maneira que Deus usa para
alcançar a vitória final.A Judéia e a Samaria eram os territórios que o Senhor
havia comandado os discípulos a evangelizarem depois de Jerusalém. A Judéia
circundava Jerusalém e Samaria ficava ao norte dessa cidade.Os apóstolos,
segundo parece, não eram perseguidos ainda, talvez por causa da decisão do
Sinédrio de seguir o conselho de Gamaliel e limitavam o seu testemunho a
Jerusalém. Não nos é informado o motivo.O Evangelho, no entanto, era
transmitido pelos demais membros da igreja no exílio por causa da perseguição,
e novas igrejas iam se formando em outras localidades. O que, do ponto de vista
humano, seria considerado como uma derrota para o Evangelho, na realidade foi
um sucesso, pois a semente do fruto da pregação pelos apóstolos foi desta forma
espalhada pelas regiões vizinhas para dar mais fruto em abundância.Não sabemos
quem eram os homens piedosos que sepultaram Estêvão, mas é possível que tenham
sido membros da igreja ou mesmo judeus piedosos que o conheciam, ou haviam se
beneficiado das suas curas.Fizeram por ele grande lamentação, pois além de
tê-lo em grande estima por causa do seu caráter, sabiam que iriam sentir muito
a sua falta.Filipe, não o apóstolo mas outro dos sete diáconos originais (cap.
6:5), subiu para o norte e foi para Samaria.Samaria havia sido visitada pelo
Senhor Jesus no início do Seu ministério, quando muitos creram que Ele era o
Salvador do mundo, primeiro por causa do testemunho da mulher a Quem Ele havia
se revelado primeiro, e em seguida por causa da Sua própria palavra (João
4:39-41). Ele havia proibido os Seus apóstolos provisoriamente de pregarem ali
na sua terceira viagem pela Galiléia (Mateus 10:5), mas antes da Sua ascensão
comandou que fossem (cap. 1:8).
Em Samaria, Filipe se destacou na evangelização, e Deus lhe deu
os dons dos apóstolos para desenvolver esse ministério, assim como fizera com
Estêvão. Somente os primeiros pioneiros que levavam a Palavra de Deus ao mundo,
além dos apóstolos, receberam esses dons, mas esses "sinais" foram
retirados e desde quando os livros que compõem as Escrituras Sagradas, a
Bíblia, foram completados e estabelecidos, as credenciais de um homem de Deus
têm sido a sã doutrina ao invés de
sinais miraculosos.Filipe pregava a Cristo numa cidade de Samaria, e realizava
sinais miraculosos, saindo espíritos imundos de muitos, e curando muitos
paralíticos e coxos. Ao ver os que eram curados, as multidões ficavam
escutando, unânimes, ao que ele dizia, e isto resultava em grande alegria
naquela cidade.Vemos até aqui como os membros da igreja em seus primórdios
obedeceram ao que o Senhor Jesus havia comandado:Saíram como Ele havia feito
(João 20:21 - Atos 8:1,4).Venderam seus bens, dando-os aos pobres (Lucas 12:33,
18:22 - Atos 2:45, 4:34).Deixaram pai, mãe, casas e terrenos para ir pregar a
Palavra em outros lugares (Mateus 10:37 - Atos 8:1,4).Fizeram discípulos e os
ensinaram a trabalhar e obedecer (Mateus 28:18-20 - Atos 8:4).Tomaram a sua
cruz e seguiram Cristo (Mateus 10:38 - Atos 4:1-3).Exultaram na tribulação e
perseguição (Mateus 5:11-12 - Atos 16:25 , 1 Tessalonicenses 1:6-8).Deixaram os
mortos enterrar os mortos e foram pregar o Evangelho (Lucas 9:59-60 - Atos
8:2).(FONTE notas bible-facts.info)
c) Atividades Missionárias.
Cristo havia estabelecido sua igreja na encruzilhada do mundo
antigo. As rotas comerciais traziam mercadores e embaixadores através da
Palestina, onde eles entravam em contato com o evangelho. Dessa maneira, no
livro de Atos vemos a conversão de oficiais de Roma (At 10.1-48), da Etiópia (
At 8.26-40), e de outras terras.
Logo depois da morte de Estevão, a igreja deu início a uma
atividade sistemática para levar o evangelho a outras nações. Pedro visitou as
principais cidades da Palestina, pregando tanto a judeus como aos gentios.
Outros foram para a Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria. Ouvindo que o
evangelho era bem recebido nessas regiões, a igreja de Jerusalém enviou a
Barnabé para incentivar os novos cristãos em Antioquia (At 11.22-23). Barnabé,
a seguir, foi para Tarso em busca do jovem convertido Saulo (Paulo) e o levou
para a Antioquia, onde ensinaram na igreja durante um ano (At 11.26).
Um profeta por nome Ágabo predisse que o Império Romano sofreria
uma grande fome sob o governo do Imperador Cláudio. Herodes Agripa estava
perseguindo a igreja em Jerusalém; Ele já havia executado a Tiago, irmão de
João, e tinha lançado Pedro na prisão (At 12.1-4). Assim os cristãos de
Antioquia coletaram dinheiro para enviar a seus amigos em Jerusalém, e despacharam
Barnabé e Paulo com o socorro. Os dois voltaram de Jerusalém levando um jovem
chamado João Marcos (At 12.25). Por esta ocasião, diversos evangelistas haviam
surgido no seio da igreja de Antioquia, de modo que a congregação enviou
Barnabé e Paulo numa viagem missionária à Ásia Menor (At 13-14). Esta foi a
primeira de três grandes viagens missionárias que Paulo fez para levar o evangelho aos recantos
longínquos do Império Romano.
Os primeiros missionários cristãos concentraram seus ensinos na
Pessoa e obra de Jesus Cristo. Declararam que ele era o servo impecável e Filho
de Deus que havia dado sua vida para expiar os pecados de todas as pessoas que
depositavam sua confiança nele (Rm 5.8-10). Ele era aquele a quem Deus
ressuscitou dos mortos para derrotar o poder do pecado (Rm 4.24-25; 1Co 15.17).
A IGREJA
ESPALHADA, At 7 a 12
A perseguição foi o instrumento usado por Deus para desaglutinar
a igreja de Jerusalém e alcançar outros povos.
a) Jerusalém e Judeia
- A igreja inicialmente se concentrou em Jerusalém. Entretanto,
Deus estava firme em seu propósito de levar a bênção do Evangelho às outras
regiões e, por fim, a todas as nações. Ocorreu então que, com a perseguição
vinda diretamente contra a igreja de Jerusalém, os que foram dispersos
começaram a pregar em toda parte por onde passavam, At 8: 1, 4 e 5: 11, 19, 20
e 13: 46, 47. Com a morte de Estêvão, At 6 e 7, as testemunhas de Jesus foram
espalhadas.
b) Samaria - Felipe prega em Samaria, At 8: 4-8
E em missão transcultural
prega ao etíope, um alto oficial da rainha de Candace, que crê e pede para ser
batizado naquele mesmo dia, At 8: 26, 28-36 e 39. A história indica que aquele
etíope pode ter preparado o caminho para o posterior estabelecimento de
milhares de igrejas no longínquo vale do Nilo, na África.
c) Gentio romano
- Pedro prega para Cornélio, um centurião romano. Foi difícil
para Pedro, ainda que cheio do Espírito Santo, aceitar a conversão de um
gentio. Mas, após uma visão, entendeu que Deus não faz acepção de pessoas, At 10:
9, 23, 34 e 35
d) “até os confins da terra” - Saulo, escolhido por Deus para
levar a mensagem aos gentios, At 9: 15, 16, cumpre com êxito a sua tarefa. Em
pouco mais de dez anos, e em três viagens missionárias, ele estabelece a igreja
em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia, At
13: 2, 14: 28, 15: 40, 18: 23 e 21: 17.
A IGREJA ENVIANDO, At 13
e 14
A expressão “...até os confins da terra” já não parecia uma
utopia; tornou-se realidade. A Igreja de Antioquia foi a primeira no envio de
missionários. Podemos aprender muito através de seu exemplo:
a) Colaboração, At 13: 1-3
- Em Antioquia, temos o verdadeiro início de missões. Naquela
igreja havia profetas e mestres: Lúcio de Cirene, Simão Níger, Manaém, Saulo e
Barnabé, v. 1. Nenhum deles era natural de Antioquia; todos eram estrangeiros.
Numa reunião de oração, em Antioquia, quando a igreja estava orando e jejuando,
Deus separou dois deles para a obra missionária. Os três que ficaram podem ser
chamados de colaboradores. Eles representam a igreja que ficou na retaguarda.
Os dois que foram enviados representam os missionários. Notemos que eles foram
enviados por Deus e pela igreja, vv. 2 e 3.
b) Comunicação, At 14: 27, 28
- Paulo e Barnabé seguem em frente, sempre dando relatórios de
seu trabalho à igreja que ficou na retaguarda, orando e sustentando-os com suas
ofertas. Por onde passaram, deixaram a semente da Palavra e outros irmãos foram
também chamados a colaborar. Assim, a obra cresceu ao ponto de Paulo poder
dizer que o evangelho fora pregado a toda a criatura debaixo do céu, Cl 1: 23.
Veja o valor da tarefa evangelizadora assumida pela igreja
primitiva e a importância de manter bem informados daquilo que estão realizando
tanto os irmãos que sustentam os missionários como as igrejas e entidades que
os enviaram. É pregando o Evangelho que vamos alargando as fronteiras do Reino
de Deus e arrancando vidas das mãos do diabo.
d) Governo Eclesiástico.
A princípio, os seguidores de Jesus não viram a necessidade de
desenvolver um sistema de governo da Igreja. Esperavam que Cristo voltasse em
breve, por isso tratavam os problemas internos à medida que surgiam - geralmente de um modo muito
informal.
Mas o tempo em que Paulo escreveu suas cartas às igrejas, os
cristãos reconheciam a necessidade de organizar o seu trabalho. O NT não nos dá
um quadro pormenorizado deste governo da igreja primitiva. Evidentemente, um ou
mais presbíteros presidiam os negócios de cada congregação (Rm 12.6-8; 1Ts
5.12; Hb 13.7,17,24), exatamente como os anciãos faziam nas sinagogas judaicas.
Esses anciãos (ou presbíteros) eram escolhidos pelo Espírito Santo (At 20.28),
mas os apóstolos os nomeavam (At 14.23). Por conseguinte, o Espírito Santo
trabalhava por meio dos apóstolos ordenando líderes pra o ministério.
Alguns ministros chamados evangelistas parecem ter viajado de uma
congregação para outra, como faziam os apóstolos. Seu título significa
"homens que manuseiam o evangelho". Alguns têm achado que eram todos
representantes pessoais dos apóstolos, como Timóteo o foi de Paulo; outros
supõem que obtiveram esse nome por manifestarem
um dom especial de evangelização. Os anciãos assumiam os deveres
pastorais normais entre as visitas desses evangelistas.
Algumas cartas do NT referem-se a bispos na igreja primitiva.
Isto é um bocado confuso, visto que esses "bispos" não formavam uma
ordem superior da liderança eclesiástica como ocorre em algumas igrejas onde o
título é usado hoje. Paulo lembrou aos presbíteros de Éfeso que eles eram
bispos (At 20.28), e parece que ele usa os termos presbítero e
bispointercambiavelmente (Tt 1.5-9). Tanto os bispos como os presbíteros
estavam encarregados de supervisar uma congregação. Evidentemente, ambos os
termos se referem aos mesmos ministros
da igreja primitiva, a saber, os presbíteros.
Paulo e os demais apóstolos reconheceram que o ES concedia
habilidades especiais de liderança a certas pessoas (1Co 12.28). Assim, quando
conferiam um título oficial a um irmão ou irmã em Cristo, estavam confirmando o
que o Espírito Santo já havia feito.
A igreja primitiva não possuía um centro terrenal de poder. Os
cristãos entendiam que Cristo era o centro de todos os seus poderes (At 20.28).
O ministério significava servir em humildade, em vez de governar de uma posição
elevada (Mt 20.26-28). Ao tempo em que Paulo escreveu suas epístolas pastorais,
os cristãos reconheciam a importância de preservar os ensinos de Cristo por intermédio de
ministros que se devotavam a estudo especial, "que maneja bem a palavra da
verdade" (2Tm 2.15). A igreja
primitiva não oferecia poderes mágicos, por meio de rituais ou de qualquer
outro modo. Os cristãos convidavam os incrédulos para fazer parte de seu grupo,
o corpo de Cristo (Ef 1.23), que seria salvo como um todo. Os apóstolos e
os evangelistas proclamavam que Cristo voltaria para o seu povo, a
"noiva" de Cristo (Ap 21.2; 22.17). Negavam que indivíduos pudessem
obter poderes especiais de Cristo para seus próprios fins egoístas (At 8.9-24;
13.7-12).
e) Padrões de Adoração.
Visto que os cristãos primitivos adoravam juntos, estabeleceram
padrões de adoração que diferiam muito dos cultos da sinagoga. Não temos um
quadro claro da adoração Cristã primitiva até 150 dC, quando Justino Mártir
descreveu os cultos típicos de adoração. Sabemos que a igreja primitiva
realizava seus serviços no domingo, o primeiro dia sa semana. Chamavam-no de
"o Dia do Senhor" porque foi o dia em que Cristo ressurgiu dos
mortos. Os primeiros cristãos reuniam-se no templo em Jerusalém, nas sinagogas,
ou nos lares ( At 2.46; 13.14-16; 20.7-8). Alguns estudiosos crêem que a
referência aos ensino de Paulo na escola de Tirano (At 19.9) indica que os
primitivos cristãos às vezes alugavam prédios de escola ou outras instalações.
Não temos prova alguma de que os cristãos tenham construído instalações
especial para seus cultos de adoração durante mais de um século após o tempo de
Cristo. Onde os cristãos eram perseguidos, reuniam-se em lugares secretos como
as catacumbas (túmulos subterrâneos) de Roma.
Crêem os eruditos que os primeiros cristãos adoravam nas noites
de domingo, e que seu culto girava em torno da Ceia do Senhor. Mas nalgum ponto os cristãos começavam a manter dois
cultos de adoração no domingo, conforme descreve Justino Mártir - um bem cedo
de manhã e outro ao entardecer. As horas eram escolhidas por questão de segredo
e para atender às pessoas trabalhadoras que não podiam comparecer aos cultos de
adoração durante o dia.
- Ordem do Culto:
Geralmente o culto matutino era uma ocasião de louvor, oração e
pregação. O serviço improvisado de adoração dos cristãos no Dia de Pentecoste
sugere um padrão de adoração que podia ter sido geralmente adotado. Primeiro,
Pedro leu as Escrituras. Depois pregou um sermão que aplicou as Escrituras à
situação presente dos adoradores (At 2.14-36). As pessoas que aceitavam a
Cristo eram batizadas, seguindo o exemplo do próprio Senhor. Os adoradores participavam dos cânticos, dos
testemunhos ou de palavras de exortação
(1Co 14.26).
- A Ceia do Senhor:
Os primitivos cristãos tomavam a refeição simbólica da Ceia do
Senhor para comemorar a Última Ceia, na
qual Jesus e seus discípulos observaram a tradicional festa judaica da Páscoa.
Os temas dos dois eventos eram os mesmo. Na Páscoa os judeus regozijavam-se
porque Deus os havia libertado de seus inimigos e aguardavam com expectação o
futuro como filhos de Deus. Na Ceia do
Senhor, os cristãos celebravam o modo como Jesus os havia libertado do pecado e
expressavam sua esperança pelo dia quando Cristo voltaria (1Co 11.26).
A princípio, a Ceia do Senhor era uma refeição completa que os cristãos
partilhavam em suas casas. Cada convidado trazia um prato para a mesa comum. A
refeição começava com oração e com o
comer de pedacinhos de um único pão que representava o corpo partido de Cristo.
Encerrava-se a refeição com outra oração e a seguir participavam de uma taça de
vinho, que representava o sangue vertido de Cristo.
Algumas pessoas conjeturavam que os cristãos estavam
participando de um rito secreto quando observavam a Ceia do Senhor, e inventaram
estranhas histórias a respeito desses cultos. O imperador Trajano proscreveu
essas reuniões secretas por volta do ano 100 dC. Nesse tempo os cristãos
começaram a observar a Ceia do Senhor durante o culto matutino de adoração,
aberto ao público.
- Batismo:
O batismo era um acontecimento comum da adoração cristã no
templo de Paulo (Ef 4.5). Contudo, os
cristãos não foram os primeiros a celebrar o batismo. Os judeus batizavam seus
convertidos gentios; algumas seitas judaicas praticavam o batismo como símbolo
de purificação, e João Batista fez dele uma importante parte de seu ministério.
O NT não diz se Jesus batizava regularmente seus convertidos, mas numa ocasião,
pelo menos, antes da prisão de João, ele foi encontrado batizando. Em todo o
caso, os primitivos cristãos eram batizados em nome de Jesus, seguindo o seu
próprio exemplo (Mc 1.10; Gl 3.27).
Parece que os primitivos cristãos interpretavam o significado do
batismo de vários modos - como símbolo da morte de uma pessoa para o pecado (Rm
6.4; Gl 2.12), da purificação de pecados
(At 22.16; Ef 5.26), e da nova vida em Cristo (At 2.41; Rm 6.3). De quando em
quando toda a família de um novo convertido era batizada (At 10.48; 16.33; 1Co
1.16), o que pode significar o desejo da pessoa de consagrar a Cristo tudo
quanto tinha.
- Calendário Eclesiástico:
O NT não apresenta evidência alguma de que a igreja primitiva
observava quaisquer dias santos, a não ser sua adoração no primeiro dia da
semana (At 20.7; 1Co 16.2; Ap 1.10). Os cristãos não observam o domingo como
dia de descanso até ao quarto século de nossa era, quando o imperador
Constantino designou-o como um dia santo para todo o Império Romano. Os
primitivos cristãos não confundiam o domingo com o sábado judaico, e não faziam
tentativa alguma para aplicar a ele a legislação referente ao sábado.
O historiador Eusébio diz-nos que os cristãos celebravam a
Páscoa desde os tempos apostólicos; 1Co 5.6-8 talvez se refira a uma Páscoa
cristã na mesma ocasião da Páscoa judaica. Por volta do ano 120 dC, a igreja de
Roma mudou a celebração para o domingo após a Páscoa judaica enquanto a igreja
Ortodoxa Oriental continuou a celebrá-la na Páscoa Judaica.
f) Conceito do NT sobre a Igreja.
É interessante pesquisar vários conceitos de igreja no NT. A
Bíblia refere-se aos primeiros cristãos como família e templo de Deus, como
rebanho e noiva de Cristo, como sal, como fermento, como pescadores, como
baluarte sustentador da verdade de Deus, de muitas outras maneiras. Pensava-se
na igreja como uma comunidade mundial única de crentes, da qual cada
congregação local era afloramento e amostra. Os primitivos escritores cristãos
muitas vezes se referiam à igreja como o "corpo de Cristo" e o
"novo Israel". Esses dois
conceitos revelam muito da compreensão que os primitivos cristãos tinha da sua
missão no mundo.
- O Corpo de Cristo:
Paulo descreve a igreja como "um só corpo em Cristo"
(Rm 12.5) e "seu corpo" (Ef 1.23). Em outras palavras, a igreja
encerra numa comunhão única de vida divina todos os que são unidos a Cristo
pelo Espírito Santo mediante a fé. Esses participam da ressurreição (Rm 6.8), e são a um tempo chamados e
capacitados para continuar seu
ministério de servir e sofrer para abençoar a outros (1Co 12.14-26). Estão
ligados numa comunidade que personifica o reino de Deus no mundo.
Pelo fato de estarem ligados a outros cristãos, essas pessoas
entendiam que o que faziam com seus próprios corpos e capacidades era muito
importante (Rm 12.1; 1Co 6.13-19; 2Co 5.10). Entendiam que as várias raças e
classes tornam-se uma em Cristo (1Co 12.3; Ef
2.14-22), e deviam aceitar-se e amar-se uns aos outros de um modo que
revelasse tal realidade.
Descrevendo a igreja com o corpo de Cristo, os primeiros
cristãos acentuaram que Cristo era o cabeça da igreja (Ef 5.23). Ele orientava
as ações da igreja e merecia todo o louvor que ela recebia. Todo o poder da
igreja para adorar e servir era dom de Cristo.
- O Novo Israel: Os primitivos cristãos identificavam-se com
Israel, povo escolhido de Deus. Acreditavam que a vinda e o ministério de Jesus cumpriram a promessa de Deus aos
patriarcas (Mt 2.6; Lc 1.68; At 5.31), e sustentavam que Deus havia
estabelecido uma Nova Aliança com os seguidores de Jesus (2Co 3.6; Hb 7.22,
9.15).
Deus, sustentavam eles, havia estabelecido seu novo Israel na
base da salvação pessoal, e não em
linhagem de família. Sua igreja era uma nação espiritual que transcendia a
todas as heranças culturais e nacionais. Quem quer que depositasse fé na Nova
Aliança de Deus, rendesse a vida a Cristo, tornava-se descendente espiritual de
Abraão e, como tal, passava a fazer parte do "novo Israel" (Mt 8.11;
Lc 13.28-30; Rm 4.9-25; Gl 3-4; Hb 11-12).
-Características Comuns: Algumas qualidades comuns emergem das
muitas imagens da igreja que encontramos no NT. Todas elas mostram que a igreja
existe porque Deus trouxe à existência. Cristo comissionou seus seguidores a
levar avante a sua obra, e essa é a razão da existência da igreja.
As várias imagens que o NT apresenta da igreja acentuam que o
Espírito Santo a dota de poder e determina a sua direção. Os membros da igreja
participam de uma tarefa comum e de um destino comum sob a orientação do
Espírito.
A igreja é uma entidade viva e ativa. Ela participa dos negócios
deste mundo; demonstra o modo de vida que Deus tenciona para todas as pessoas,
e proclamam a Palavra de Deus para a era presente. A unidade e a pureza
espirituais da igreja estão em nítido contraste com a inimizade e a corrupção
do mundo. É responsabilidade da igreja em todas as congregações particulares
mediante as quais ela se torna visível, praticar a unidade, o amor e cuidado de um modo que mostre que Cristo vive
verdadeiramente naqueles que são membros do seu corpo, de sorte que a vida
deles é a vida de Cristo neles.
(Notas fonte a vida no novo testamento Ed.vida nova,2007)
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