Carateristicas da igreja primitiva
Os
primórdios da Vida At 2:42-47.
É bem provável que tenhamos duas fontes informativas separadas
entre aquela que foi preservada para nós, por detrás da narrativa sobre o dia
de Pentecoste, e este registro referente à vida comunal da igreja cristã
primitiva, dos discípulos em Jerusalém. Alguns comentadores consideram que a
fonte informativa que descreve esse tipo de vida é ainda mais antiga que a
outra, que preservou para nós a experiência do dia de Pentecoste; porém, sobre
isso não possuímos conhecimento exato, e nem a questão se reveste de grande
importância. Foi com a finalidade de vincular essas duas fontes informativas
distintas que Lucas registrou os versículos quarenta e dois e quarenta e três,
que são editoriais. Já os versículos quarenta e quatro a quarenta e sete
contam-nos sobre o caráter da vida na comunidade cristã primitiva. Quatro
características podem ser distinguidas, como elementos principais:
1. A doutrina dos apóstolos: Sem dúvida a maior parte dessa
doutrina se alicerçava nas palavras de Jesus, preservadas principalmente pelos
próprios apóstolos, com base na memória, e talvez também com base em documentos
escritos extremamente primitivos, além das tradições orais fixas que se
formaram desde bem cedo, na história da igreja cristã. A formação dessas
tradições, desde o princípio, em forma padronizada de doutrina expressa, é
indicada em trechos como Rm 6:17 (menção de Paulo sobre a «forma de doutrina»),
II Tm 1:3 («o padrão das sãs palavras») e II Pe 3:16 («as demais Escrituras»),
com o acréscimo das contribuições paulinas, em suas epístolas, o que foi
desenvolvimento posterior desse mesmo processo formativo. Esses ensinamentos
padronizados dos apóstolos, baseados nas instruções do Senhor Jesus,
tornaram-se o material informativo dos evangelhos primitivos,
2. Outra característica fundamental da igreja cristã primitiva
era o seu companheirismo íntimo, o amor fraternal que caracterizava os
primeiros crentes. Essa é a palavra favorita de Paulo, para descrever a unidade
dos crentes, tanto uns como os outros com o Senhor Jesus Cristo. Ver I Co 1:9.
O apóstolo João também transmite para nós essa ideia, em suas epístolas. (Ver I
Jo 1:5-7). Tal companheirismo se alicerçava primariamente na correta relação de
cada crente com Deus, o que, por si mesmo, garantia a correta relação entre os
crente. Tal comunhão florescia na forma de uma partilha comunal de bens, em que
todos se utilizavam de um fundo comum. É provável que isso se tivesse tornado
necessário por causa das severas perseguições contra os cristãos judeus, o que
os reduziu a grande estado de penúria, exigindo que os crentes distribuíssem
seus bens uns com os outros, a fim de que pudessem sobreviver. Entretanto, a
vida comunal mui provavelmente se alicerçava em mais do que no companheirismo;
pois os cristãos, odiados por todos os outros, naturalmente foram aproximados
uns dos outros como nunca, e começaram a viver em comunidades distintas e
separadas, em resultado de que dividiam entre si as suas possessões materiais.
Como arranjavam o problema de moradia, não sabemos dizê-lo. Não há qualquer
indicação definida que nos mostre que vivessem juntos, amontoados em pequeno
espaço, como usualmente se dá nos casos modernos de vida comunal. Jesus e os
seus discípulos levavam um tipo de vida comunal; e o que sucedeu entre os
crentes, após o dia de Pentecoste, foi apenas a continuação desse estilo de
vida dos discípulos de Cristo.
3. O partir do pão, forma primitiva da Ceia do Senhor ou
eucaristia, era um rito central que vinculava os seguidores de Cristo uns com
os outros; através do qual, igualmente, jamais se embotava a sua memória quanto
ao sacrifício cruento de Cristo, bem como quanto ao fato de que Cristo Jesus é
o pão espiritual, do qual necessitavam agora mais do que nunca. Esse partir do pão
era realizado em vários lares, no primeiro dia da semana, em comemoração ao dia
da ressurreição do Senhor Jesus. Isso, naturalmente, estava vitalmente ligado à
adoração dominical, tendo sido um dos grandes fatores que levou a igreja
primitiva a descontinuar a frequência às sinagogas, formando não somente uma
comunidade religiosa distinta, mas também uma adoração cristã típica e um dia
distintivamente cristão, a saber, o «dia do Senhor», no qual Jesus saiu vivo do
sepulcro, tendo-se mostrado Senhor da morte e Rei do universo, conforme foi
igualmente comprovado pela sua ascensão aos lugares celestiais, ascensão essa
que, tanto neste livro de Atos como nos escritos de Paulo, sempre subentende a
ressurreição. (Ver At 20:7 quanto a esse costume de partir o pão no primeiro
dia da semana).
4. As devoções e orações dos primitivos cristãos eram sinais
distintivos, por semelhante modo. Sem dúvida alguma muitos deles, tendo sido
criados como judeus devotos, não negligenciavam as formas ordinárias de
adoração, tanto no templo de Jerusalém como nas sinagogas. O versículo quarenta
e seis mostra-nos que o templo continuava sendo reputado local sagrado para
aqueles crentes judeus, parte integrante de sua devoção religiosa. Na proporção
em que as perseguições se intensificaram, entretanto, gradualmente os crentes
judeus se foram separando dos métodos e costumes judaicos, e as suas
congregações se tornaram o centro de suas atividades religiosas diárias. As
congregações mais primitivas dos cristãos eram organizadas nos lares dos
próprios crentes; depois, porém, foram construídos templos especialmente
dedicados ao culto, em substituição ao templo judaico. Naturalmente, no caso
das comunidades cristãs gentílicas, até mesmo aquelas que se encontravam em
terras da Palestina, o rompimento com o judaísmo fora quase completo já desde o
começo do cristianismo. Pela altura do fim do livro de Atos (isto é, dos
acontecimentos ali narrados), em cerca do ano 60 d.C, tal rompimento já deveria
estar quase completo, no tocante a todo o movimento cristão, e certamente isso
se concretizou de vez, após a destruição da cidade de Jerusalém, no ano 70 d.C.
Desse modo, esta pequena seção mostra-nos que o cristianismo é
mais do que mera adição ao judaísmo antigo, na forma de algumas doutrinas adicionais.
Pelo contrário, é um meio de vida, em que os primitivos cristãos se mostravam
extremamente —intensos e devotos, ocupando-se daquela devoção estrita que
sempre caracterizou o judaísmo.
2:42 e perseveravam na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
Os vss. 42 e 43 são editoriais, escritos pelo autor sagrado, que
se utilizou dos mesmos para vincular duas narrativas separadas, isto é, aquela
referente ao dia de Pentecoste e aquela atinente à vida comunal da igreja cristã
primitiva, na qual alude às grandes características dessa comunidade. Após a
conversão de um número substancial de judeus, que formou o começo da comunidade
cristã primitiva, formou-se definitivamente a igreja, a despeito do fato de que
muitos dos primeiros cristãos continuaram sendo judeus devotos (conforme também
se depreende de sua adoração no templo de Jerusalém, mencionada no vs. 46).
Esses cristãos, em adição à manutenção do antigo modo judaico de adoração,
davam ouvidos à doutrina dos apóstolos, que foi o começo da formação de um
dogma cristão distinto, com práticas fixadas segundo o exemplo apostólico,
baseados sobretudo sobre os ensinamentos do próprio Senhor Jesus, conforme
haviam sido preservados pelos apóstolos e outras testemunhas oculares primitivas.
(Quanto a maiores detalhes sobre a natureza e o desenvolvimento desse corpo
distinto de ensinamentos, que posteriormente se solidificaram e foram
canonizados nos diversos livros do Novo Testamento, ver a nota anterior, no
primeiro ponto, na introdução a esta seção). A introdução mostra que esta era
uma das características distintivas da primitiva igreja cristã - distinguiam-se
dos judeus incrédulos seguindo o credo cristão, conforme estava o mesmo contido
na doutrina dos apóstolos.
«...e na comunhão...» Eis outra grande característica da
primitiva comunidade cristã, a qual é comentada no segundo ponto da nota
introdutória a esta seção, onde o comentário deve ser consultado. Pode-se
examinar esta questão sob os pontos seguintes:
1. Essa sociedade se alicerçava sobre a fé comum em Cristo e no
valor de sua morte expiatória (ideia essa igualmente expressa em Fp 2:1).
2. A palavra comunhão pode indicar cooperação na obra do
evangelho (segundo se vê também no trecho de Fp 1:5), e é indubitável que isso
também sucedia nessa comunidade primitiva.
3. «Comunhão», por semelhante modo, é termo usado para indicar
as contribuições em prol dos necessitados, como se lê em Co 8:4 e9:13, sendo
essa, igualmente, uma característica daquela primitiva comunidade cristã, o que
se tornava extremamente necessário, em face das perseguições que privavam
famílias de outro modo abastadas, causando penúria entre os membros da
comunidade cristã (ver o vss. 44 deste mesmo capítulo).
4. Esse termo, por igual modo, está associado à unidade de
espírito e de amor entre os primitivos cristãos, o que era expresso
especialmente pelo fato de que partiam juntos o pão, o que envolve o rito
comemorativo do sacrifício do Senhor Jesus, na cruz. (Quanto a esse uso da
palavra «comunhão», ver também I Co 10:16 e I Jo 1:3-7).
O trecho de I Jo 1:3-7 demonstra que a verdadeira comunhão, no
sentido eminentemente cristão, só é possível quando se mantém relações corretas
com Deus, especialmente no tocante à santidade, à pureza e à conduta espiritual
correta na vida. Qualquer coisa menos que isso interrompe o companheirismo e a
comunhão com Deus, e isso, por sua vez, interrompe o verdadeiro companheirismo
entre os crentes. Quando o pecado penetra no acampamento dos santos, como o
orgulho, o desejo de poder, a desconsideração para com o próximo, etc,
primeiramente se parte a comunhão com Deus, e então, não muito depois, a
comunhão entre os irmãos, porquanto o pecado é um elemento deletério.
«...no partir do pão e nas orações...» Desde os tempos mais
recuados que a Ceia do Senhor, embora praticada diferente do que veio a ser em
tempos posteriores, ou do que era praticada entre as igrejas cristãs
gentílicas, era um elemento importantíssimo, a ponto de podermos classificá-la,
sem receio de equívoco, como uma ordenança, na igreja primitiva, paralelamente
ao batismo em água. Não há base alguma para duvidar que esse foi o rito
instituído pelo Senhor Jesus na véspera de sua crucificação, o que é
elaboradamentedescrito na segunda metade do décimo primeiro capítulo da
primeira epístola de Paulo aos Coríntios.
É perfeitamente possível que a observância da ordenança da Ceia
do Senhor tivesse lugar todas as noites, juntamente com a refeição da tarde
(ver o vs. 46 deste mesmo capítulo, que encerra tal indício), pois isso é um
tipo de partir do pão, e provavelmente envolvia as memórias sobre como Jesus
partira pão em companhia de seus discípulos, relembrando-lhes que Cristo é o
Pão da Vida, que ele haverá de retornar a este mundo, trazendo a redenção completa
da humanidade penitente. Então, na igreja, como ordenança, embora sob uma forma
extremamente simples a princípio, introduziu o partir do pão, o que passou a
ser feito uma vez por semana, no primeiro dia da semana ou domingo, nas
congregações, que serviam de lar para qualquer dos discípulos do Senhor. (Ver
At 20:7).
Essa ordenança era o rito central que mantinha os crentes
externamente unificados, dando unidade à sua adoração, como algo distinto do
judaísmo, porquanto muitos cristãos, nos primeiros dias do cristianismo,
continuaram vivendo como judeus devotos. Gradualmente foi diminuindo de
intensidade a lealdade ao judaísmo, ao mesmo tempo que aumentava de
importância, aos olhos dos cristãos, a igreja e as suas diversas ordenanças.
Assim é que a prática do partir do pão, no primeiro dia da semana, gradualmente
transferiu o dia específico de adoração do sábado para o domingo. E é muito
provável que, nas comunidades cristãs gentílicas, essa prática tenha sido
imediatamente adotada, pois em tais distritos não havia o problema do
rompimento gradual com o judaísmo. Gradualmente, essa festa de amor (no grego
«agape» se tornou mais e mais complexa, até assumir aspectos da celebração da
páscoa—em que a festa era seguida pela comunhão, que consistia na participação
no pão e no vinho— ao passo que, noutras comunidades cristãs, isso era também
seguido pelo lava-pés, como parte integrante de toda a celebração, conforme a
ordem emanada por Cristo, conforme lemos em Jo 13:2-20, onde as notas
expositivas sobre a questão devem ser consultadas. Em algumas comunidades, a
Festa de Amor incluía a mesa do Senhor, e em alguns lugares o lava-pés,
observado apenas uma vez por ano, conforme o padrão da observância da festa da
páscoa. Originalmente, entretanto, conforme nos mostra este livro de Atos, a
observância do lava-pés era muito mais frequente do que isso, provavelmente uma
vez por semana.
A expressão partir do pão se deriva do costume judaico de
começar uma refeição com a oração «Bendito sejas tu, ó Senhor, nosso Deus, que
fizeste o pão existir sobre a terra». Em seguida havia o partir cerimonial do
pão, o que, na realidade, era ação de graças a Deus, em face do suprimento
abundante para todas as necessidades.
«...e nas orações...» Mui provavelmente os cristãos primitivos observavam
períodos estritos para suas orações diárias, conforme estavam acostumados a
fazer como judeus devotos. Três vezes por dia, às nove horas, ao meio-dia e às
seis horas da tarde, ou algum tempo durante essas divisões, havia tipos
especiais de oração e devoção de tipo litúrgico. Porém, também está em foco a
oração habitual no templo e nos lares particulares dos membros da igreja, que
não era de natureza nitidamente litúrgica. Suas vidas se caracterizavam pela
oração e pela devoção, seguindo as exigências mais estritas e severas dos
judeus, porquanto não há razão para supormos qualquer tipo de lapso em seus
costumes religiosos. Deve-se observar, na passagem de At 3:1, onde Pedro e João
subiram ao templo para a hora da oração, o que demonstra claramente o que é
dito aqui com relação à oração ritualista, como parte integrante da primitiva
devoção cristã.
Foi assim que aqueles que antes haviam clamado e exigido a morte
de Jesus, por crucificação, tendo negado amargamente o seu caráter messiânico,
agora, no dia de Pentecoste, se voltavam para ele, de coração compungido,
encontrando a comunhão com a sua cruz. Em certo sentido, isso se dá com todos
os homens, pois a necessidade de salvação revolve em torno do fato da rebeldia
universal da raça humana contra Deus.
2:43 Em cada alma havia
temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos.
A palavra «...temor...», neste caso, não indica que aqueles que
foram batizados, e se tinham unido à comunidade cristã, não fossem realmente
homens regenerados, ou que muitos deles fossem seguidores meramente
temporários, como sucedeu em diversos casos, durante o ministério terreno do
Senhor Jesus. O mais provável é que Lucas se tenha utilizado aqui desta palavra
para mostrar-nos quão profunda era a reverência que cada crente demonstrava,
porquanto nenhum deles considerava coisa de somenos as questões espirituais,
tendo ficado profundamente impressionados com as capacidades miraculosas
conferidas aos apóstolos, capacidades essas que eram exercidas entre eles quase
diariamente.
«O temor respeitoso continuava imperando e acompanhando os
sinais e as maravilhas que continuavam aparecendo através dos apóstolos. As
duas coisas corriam juntas—quanto mais maravilhas, maior era o temor».
(Robertson, in loc).
Não é mister supormos que o temor dos primeiros discípulos era
equivalente a «terror». Pelo contrário, era respeito reverente, embora, mui
provavelmente, fosse mais do que isso. Era um sentido genuíno de temor, na
presença de ocorrências obviamente milagrosas, porquanto a exibição da presença
do Espírito Santo era grande, e os homens mortais não estavam acostumados a ser
visitados tão definida e frequentemente pelos poderes do outro mundo. (Ver At
5:5,11, quanto a outras indicações sobre esse «temor» dos crentes primitivos,
sendo que também sabemos que está em foco mais do que um temor reverente, pois
o mesmo termo é usado no original grego).
Deve-se observar que os «sinais» e «prodígios» aqui referidos
são os mesmos creditados ao próprio Senhor Jesus. (Ver o vs. 22 deste capítulo,
acerca desses vocábulos). Tais palavras podem ser usadas como simples
sinônimos, mas, neste caso, o termo «prodígios» provavelmente significa feitos
estupendos, obras prodigiosas, coisas que ordinariamente não se pensaria serem
possíveis entre os mortais, tais como curas admiráveis de enfermidades
impossíveis e a ressurreição de mortos. «Sinais» indicam o mesmo tipo de
feitos, mas encarados como algo revestido de propósito didático. Nesse caso, o
seu propósito seria essencialmente o de autenticar o ministério dos
apóstolos—mostrando que operavam segundo o poder do Espírito Santo, e que o
Espírito de Deus fora enviado por dom de Jesus, o Cristo, de tal modo que em
tudo há a autenticação do caráter messiânico e do senhorio de Jesus.
Tais maravilhas aumentaram grandemente o número dos discípulos,
no seio da igreja cristã, pois tais prodígios indubitavelmente eram de origem
divina, de tal modo que poder-se-ia dizer: «Deus está com esses cristãos!» ou:
«É entre eles que está a verdade!» Os próprios sinais e feitos realizados por
Jesus são mencionados, no vigésimo segundo versículo deste mesmo capítulo, como
provas de sua missão messiânica, conforme o uso do termo «sinais», tanto no
evangelho de João como nos evangelhos sinópticos.
As palavras «...cada alma...», neste versículo, sem dúvida se
referem aos crentes, embora não devamos limitá-las a isso. Lucas evidentemente
queria mostrar que até mesmo os incrédulos estavam atônitos, cheios de temor,
em face da exibição do poder divino que se manifestava ao redor deles; porque,
tal como sucedia nos dias de Jesus, entre os apóstolos agora também se
multiplicavam as maravilhas, muitas delas bem autenticadas, de tal modo que era
impossível negar a realidade do que acontecia. Quanto ao emprego da palavra
«alma», para indicar uma «pessoa», ver sobre o vs. 41 deste capítulo, onde o
termo é traduzido meramente por «pessoas».
«É sinal característico das obras de Deus, que elas nos enchem
de admiração». (Starke, in loc). «Deus é um muro de fogo em volta de sua igreja
pentecostal, de tal modo que as plantas, ainda tenras, não sofram dano». (G. V.
Lechler, in loc).
«Maravilhas e sinais são uma descrição comum dos milagres, no
A.T. São palavras que aparecem frequentemente na primeira metade do livro de
Atos, com seu marcante pano de fundo aramaico; mas não ocorre na sua segunda
metade. Paulo emprega tal expressão em passagens como Rm 15:19; II Co 12:12 e
II Ts 2:9». (G.H.C. Macgregor, in loc).
2:44 Todos os que criam
estavam unidos e tinham tudo em comum.
No tocante à vida comunal da igreja cristã primitiva,
acrescentamos aqui o seguinte comentário. O fato dos crentes estarem juntos,
conforme aqui é declarado, parece indicar a existência de assembleias formais,
provavelmente para o ato sagrado da adoração; além disso, é bem provável que
haviam começado a formar comunidades de natureza predominantemente cristã; e
assim, em certo sentido, passavam os crentes boa parte de sua vida diária
juntos uns aos outros. Não há qualquer evidência, entretanto, de que os crentes
primitivos tenham chegado aos excessos seguidos pelos modernos grupos comunais,
que tendem a avolumar-se em pequenas áreas, em que muitas famílias ocupam uma
única casa. Assim sendo, é aqui ilustrada a unidade de espírito daqueles crentes
primitivos, embora o próprio termo não tenha aqui tal significado. Pelo menos
com base neste versículo, podemos inferir que passavam juntos, aqueles crentes,
grande parte de seu tempo, na área do templo, em suas congregações, nas casas
uns dos outros, e em todas as formas de contato social.
2:45 E vendiam suas
propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.
«...Vendiam as suas propriedades...» Encontramos aqui o
cumprimento literal das palavras do Senhor (ver Lc 12:33), que contempla uma
sociedade não fundamentada sobre a lei, os interesses próprios e a competição,
mas sim, sobre a simpatia e a autonegação. Tinham todas as coisas em comum, não
por abolição compulsória dos direitos de propriedade (ver At 5:4), mas pela
energia espontânea dada pelo amor cristão. O dom do Espírito Santo mostrou o
seu poder, não somente na forma de línguas e profecia, mas na forma do caminho
mais excelente do amor cristão. Era próprio que o resplendor inimitável do amor
se manifestasse por algum tempo, como farol luminoso para as gerações
posteriores, a despeito do que a experiência ensinou à igreja, no decurso do
tempo, que essa distribuição geral e generosa não era o método mais sábio de
conseguir um bem permanente, e que até mesmo uma economia discriminada, tal
como aquela que o apóstolo Paulo ensinou (ver II Ts 3:10 e I Tm 3:8), era
necessária como salvaguarda contra os abusos. Talvez possamos crer que isso
resultou, pelo menos parcialmente, em consequência da rápida exaustão dos seus recursos,
no fato da igreja de Jerusalém ter ficado dependente, durante muitos anos, da
generosidade abundante das igrejas cristãs dos gentios.». (Sábias palavras,in
loc, de E.H. Plumptre).
Naturalmente, temos, nessa prática da igreja cristã primitiva, determinada
forma de comunismo. Não aquela forma ditada pelo estado, mas sim, aquela forma
em que cada qual participava voluntariamente, por causa da generosidade gerada
nos seus corações, pela influência do Espírito Santo. Naturalmente não pode
haver termo de comparação entre essa ação espontânea, controlada pela compaixão
santa dos crentes primitivos, com o comunismo cruel, ímpio, tirânico, político
e materialista que se espraia pelo mundo atual. Porquanto o alicerce do
comunismo político é o materialismo, a negação tanto da porção espiritual do
homem como da existência e realidade de Deus, em lugar de quem os comunistas
exaltam o determinismo econômico. Em outras palavras, o deus do comunismo é a
ideia de que por detrás de cada alteração social há uma certa modalidade de
determinismo econômico. Conforme esse conceito, um sistema econômico, em
oposição a outro sistema, causa uma determinada tensão entre os dois; e dessa
tensão se cria um novo sistema político e econômico. Os comunistas políticos de
nossos dias imaginam vãmente que, no princípio da existência humana, todos eram
comunistas, fazendo do homem um «selvagem nobre». Ainda segundo a opinião dos
modernos teóricos do comunismo, alguns indivíduos não estavam satisfeitos com
essa ordem de coisas, mas deixaram-se arrastar pela cobiça, escravizando a
outros homens. A revolta contra a escravidão é que teria feito surgir o
feudalismo. E dos abusos do feudalismo é que apareceu o capitalismo. Ora, o
capitalismo preservaria o domínio de alguns poucos privilegiados
economicamente, pois uma pequena minoria dominante, nesse caso, é um abuso.
Isso explica a tensão criada na sociedade humana, do que teria resultado o
socialismo. O socialismo, em sua tensão com o capitalismo, é que criaria o
comunismo, o que é um retorno à situação do selvagem nobre.
Naturalmente, essa interpretação representa uma filosofia sobre
a natureza da história. Pode-se perceber facilmente que o fator dominante,
nessas considerações, é o fator econômico. No sistema comunista não há qualquer
lugar para a existência de Deus, do espírito e do mundo espiritual; mas antes,
os comunistas negam que esses fatores, autênticos como são, tenham qualquer
coisa a ver com a história da — humanidade ou com as presentes condições
sociais. A ideia geral do comunismo se baseia no idealismo dialético deHegel;
porém, ao invés da «ideia» (isto é, do «espírito absoluto», que ele postulava),
o comunismo colocou a matéria. Por conseguinte, segundo a teoria do comunismo a
história inteira opera com base na tríade: tese, antítese e síntese (esta
última resultante eventual da tensão entre as duas primeiras). Por exemplo:
tese (capitalismo), antítese (socialismo) e síntese (comunismo). Tudo isso
seria produzido pelo todo-poderoso fator econômico, sem qualquer ligação com Deus
ou com qualquer realidade espiritual.
Assim nos é mostrada a vasta diferença entre o que a igreja
cristã era, em sua generosidade e espontaneidade, com o sistema político sobre
o qual nos referimos, que jamais deixou de agir senão mediante a força bruta,
tendo começado em uma revolução sanguinária. Pode-se, por exemplo, confrontar a
benevolência espontânea da primitiva comunidade cristã com os assassínios, os
sequestros e a tortura de pessoas inocentes, a perseguição e a ameaça contra
diversas nações, mediante exércitos selvagens, o terrorismo e o propósito fixo
de conquista mundial, que deixam óbvio a malevolência do comunismo. Esse
contraste demonstra claramente que não há termo de comparação entre o comunismo
político de nossos dias e a comunidade de bens que foi praticada pela igreja
cristã primitiva.
Outrossim, não há base para a suposição de que a comunidade de
bens, na igreja primitiva, constituiu um sucesso econômico. Pelo contrário,
conforme E.H. Plumptre sugeriu na citação transcrita acima, realmente a
tentativa terminou em fracasso, tendo produzido (pelo menos como causa parcial)
a dependência econômica da comunidade cristã de Jerusalém às igrejas
gentílicas, a despeito de todas as boas intenções e do espírito de amor que
ditava essas ações. A igreja de Jerusalém dependeu economicamente das igrejas
gentílicas principalmente por causa das perseguições que vitimaram os crentes
judeus, em que os seus bens foram confiscados e foram desmanteladas as suas
fontes de ganho. Todavia, não há motivos para pensarmos que a experiência de
comunidade de bens, por parte da igreja cristã primitiva, tenha sido um sucesso
econômico, por mais benévolos e bem intencionados que tivessem sido os seus
desígnios. Mas pelo menos é indiscutível que a experiência não prosseguiu por
muito tempo, entre os próprios crentes judeus, e que jamais foi transferida
para o território gentílico; mas antes, a regra estrita em que cada qual
provesse para as suas necessidades, mediante o seu trabalho, é princípio básico
subentendido em trechos como II Pe 3:10-12; Ef 4:28 e I Tm 3:8. Naturalmente
essa regra bíblica não é contrária à benevolência e à caridade, porquanto o
apóstolo Paulo indicou que o trabalho é aconselhável, não meramente para que
sejam supridas as necessidades básicas do indivíduo, mas também para que cada
crente tivesse bens extras que pudessem ser dados voluntariamente aos que
padecessem penúria. Outrossim, a prática das esmolas era muito importante no
judaísmo e no cristianismo primitivo, mais do que na igreja cristã moderna.
A atitude que impulsionava aqueles crentes a essa generosidade é
altamente recomendável, conforme observa Theodore P. Ferris (inloc): «Não há
aqui qualquer afetação intelectual! Não há qualquer superioridade social,
intolerância racial ou privilégios temperamentais aqui! Estavam todos juntos,
ligados em comunhão pelas mesmas ideias (a doutrina dos apóstolos), pelas
mesmas práticas (o partir do pão), pelos mesmos hábitos religiosos (as orações)
e pelos mesmos direitos e responsabilidades de fundo econômico (o fato de que
vendiam suas possessões e bens e distribuíam o produto entre todos, segundo a
necessidade de cada um)».
O exemplo dessa vida comunitária mui provavelmente foi provocado
por
alguma necessidade local, mas também se alicerçava tanto na
atitude de generosidade como na ideia de que Jesus e seus doze discípulos
especiais viveram daquele modo. Há evidências de que os essênios também viviam
assim, pelo menos em suas características essenciais (ver Josefo, Guerras dos
Judeus ii.8.3), e isso pode ter fornecido aos cristãos primitivos um outro
exemplo de vida comunal. Todavia, não existem indicações de que qualquer outra
comunidade religiosa cristã tenha jamais experimentado esse método durante o
tempo dos apóstolos, embora, durante o período da história da igreja cristã,
encontremos ocasionalmente outras tentativas, e sempre com o resultado final de
fracasso.
2:46 E, perseverando
unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria
e singeleza de coração,
Os Antigos Hábitos Morrem Lentamente
1. Até à destruição de Jerusalém, no ano 70 D.C., os cristãos
que viviam em regiões judaicas continuaram a observar os ritos do templo, sem
dúvida honrando a Cristo, simbolizado que era por tais cerimônias. Para esses,
o judaísmo tinha de desaparecer lentamente e com honras.
2. Os próprios principais líderes da igreja, incluindo o
apóstolo Paulo, assim se comportaram. Ver At 3:1; 18:18 e 21:23,26.
3. O concilio de Jerusalém relaxou as regras cerimoniais no caso
dos gentios, mas nenhuma restrição foi imposta aos judeus cristãos (ver Atos
15).
4. Qualquer transição de um antigo para um novo sistema requer
tempo e críticas, e eram tidos por anacronismos os costumes de judeus cristãos
que se aferravam a hábitos meio-judaicos.
«...partiam pão de casa em casa...» Vemos aqui a observância da
Ceia do Senhor, posto que sob forma diferente daquela que veio a ser praticada
mais tarde. É patente que originalmente essa ordenança estava vinculada à
refeição vespertina e cada vez que se reclinavam para participar da mesma (como
também de outras refeições, provavelmente, partiam o pão e observavam o rito
simples da Ceia do Senhor. Mais tarde isso passou a ser feito nas suas
congregações, talvez de maneira um tanto mais formal, no primeiro dia de cada
semana, como memorial da ressurreição e da promessa do segundo advento de Jesus
Cristo, bem como ato de ação de graças pela obra expiatória de Jesus, o Cristo,
o Pão da Vida. (Ver At 20:7). Quanto a uma discussão mais completa sobre esse
assunto, ver as notas expositivas referentes ao vs. 42 deste capítulo).
A ordenança da Ceia do Senhor servia de elemento unificador na
vida da igreja cristã primitiva, porquanto todos os crentes uniam em torno da
comemoração da morte, da ressurreição e da segunda vinda do mesmo Senhor, que
lhes servia de fonte originária para todas as suas expectações espirituais.
Essa é uma das notáveis características da comunidade cristã primitiva, que
esta seção do livro de Atos salienta para nós. (Quanto a um sumário acerca das
quatro características fundamentais dos primitivos discípulos de Cristo, ver as
notas introdutórias ao vs. 42 deste mesmo capítulo).
Unidade dos Crentes Primitivos— Os crentes comiam juntos, em
grande alegria, porquanto suas vidas haviam assumido um novo propósito e
destino. Faziam isso com Jesus como Senhor, enriquecendo as suas vidas. Note-se
como Cristo se tornou o centro de toda a vida dos crentes; e sem dúvida isso é
o segredo de sua intensa devoção. Os crentes agiam em simplicidade de coração,
e a simplicidade é uma das qualidades da pureza. A proporção em que vamos
perdendo nossa pureza de vida, começamos a ficar mais complexos, pois então
temos muitos dominadores. Aqueles que têm apenas um senhor, podem servir a ele
exclusivamente, os seus corações são simples e não complexos, e isso reflete a
pureza de vida que os caracteriza. Provavelmente é por causa dessa
circunstância que a moderna palavra, sofisticação, tornou-se sinônimo virtual
de «perversão», especialmente no sentido de perversão à lassidão moral.
A significação literal dessa palavra, «singeleza» (que não
ocorre em qualquer outra porção do N.T.) era a ideia da suavidade do solo, sem
pedras. Daí passou a significar igualdade e unidade de caráter. Tal unidade de
caráter podia ser demonstrada pelo amor mútuo, pela pureza, pela devoção
intensa, sem mistura ao Senhor Jesus, porquanto se consagravam supremamente a
ele, de tal modo que nenhuma «pedra» do ego e do pecado estava misturada com a
igualdade deles, com o seu caráter singular.
«Tranquilidade de consciência e alegria são frutos da fé».
(Starke, in loc).
O Senhor Jesus ensinou-nos que o nosso «olho» deve ser simples
ou singelo, isto é, sem complicações, dedicado exclusivamente àquilo que é
santo e puro, bem como recomendável. (Ver Mt 6:22). Isso foi dito em conexão
com a questão do serviço a um único senhor, com a questão da busca pelo tesouro
celestial. O olho singelo enche a alma de luz; mas o olho dúplice enche-a de
trevas opressivas. O apóstolo Paulo escreveu: «...e quero que sejais sábios
para o bem e simples para o mal...»(Rm 16:19), o que significa que não devemos
racionalizar e nem buscar justificações intelectuais para a maldade, mas antes,
manter padrões simples e claros; não devemos ser «sofisticados» no moderno sentido
do vocábulo, e, sim simples, singelos, porquanto isso agrada a nosso Deus.
2:47 louvando a Deus, e
caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que
iam sendo salvos.
Os crentes não reconheciam apenas a mera sobrevivência; antes,
sabiam que eventualmente haveriam de compartilhar da imagem perfeita e da
natureza de Jesus Cristo, e diariamente presenciavam provas de que Cristo
estava com eles, de que a sua redenção era um fato. Por conseguinte, não
cessavam de louvar a Deus, conforme também sucederia a qualquer indivíduo
convicto dessas realidades.
«Louvavam a Deus, como fonte de onde derivavam todas as suas
bênçãos espirituais e temporais, viam o Senhor em todas as coisas e exaltavam
as suas obras misericordiosas». (Adam Clarke, in loc). É notável que o
evangelho de Lucas se encerra com esse tom de louvor e que as aleluias
provocadas pela ressurreição de Jesus Cristo, bem como por sua ascensão, são
aqui provocados pela devoção diária que manifestavam para Cristo, que se
aprofundou ainda mais mediante a experiência pentecostal.
«...com a simpatia de todo o povo...» Esse fato faz-nos lembrar
de como o menino Jesus contou com o favor dos homens, e de como, em seu
ministério público, ele desfrutava das simpatias do público em geral, posto que
muitos lhe fizessem oposição quase desde o princípio. Não obstante, tal como
sucedeu ao Senhor Jesus, assim também aconteceu com a igreja cristã primitiva.
Esse favor humano em breve se transmutou no tipo mais odioso e amargo de
oposição e perseguição. Podemos imaginar que benefícios ali realizados, apenas
serviram para reviver a memória de Jesus, despertando antigos sentimentos de
boa vontade, mas que posteriormente foram destruídos pela campanha deliberada
de difamação, liderada pelas autoridades religiosas do povo judeu.
As palavras que aparecem no original grego «epi to auto» (que
são traduzidas por «lhes» nas traduções portuguesas AA e IB), têm provocado
grande dificuldade para os expositores, além de terem sido motivo para algumas
variantes textuais. Ordinariamente, essa frase significa «juntos», conforme a
encontramos nos trechos de Lc 17:35; At 1:15; 2:1; 2:44 e 4:26. Porém, se assim
traduzirmos tal expressão, o resultado é uma sentença esquisita: «...e o Senhor
acrescentava junto, dia a dia, aqueles que iam sendo salvos...» Não obstante,
tal tradução oferece o sentido da sentença, e Robertson (in loc), não encontra
qualquer objeção para essa tradução. Mas outras traduções preferem traduzir por
«...ao seu número...» (conforme diz a tradução inglesa RSV).
O texto de manuscritos ocidentais, ao procurar contornar essa
dificuldade, acrescentou as palavras «à igreja» (conforme aparece no códex D,
em algumas versões latinas e nos códices Pi e E). Naturalmente isso não representa
o texto original, mas é antes uma expansão que procura solucionar a
dificuldade. Não obstante, é modificação seguida pelas traduções KJ e AC.
Alguns estudiosos têm sugerido que essas palavras são uma tradução errônea do
composto adverbial aramaico que significa «excessivamente». Salientam esses
estudiosos que esse composto aramaico só tinha essa significação do dialeto
judaico e que Lucas, ao empregar uma fonte informativa aramaica para esta seção
do livro de Atos, talvez não estivesse familiarizado com a sua significação,
registrando uma frase estranha no idioma grego. Os autores Lake e Cadbury
(«Beginnings of Christianity», IV,30) salientam que, nos papiros, a expressão
«epito auto» é usada para indicar declarações financeiras, equivalente a «no
total», e perguntam se um número deveria seguir-se aqui, como acontece em At
1:15, onde aparece a mesma expressão grega e se pode traduzi-la corretamente
por «junto».
Porém, mesmo sem chegarmos a qualquer conclusão definitiva a
respeito de como se deve traduzir essa pequena expressão grega, o sentido do
versículo é óbvio. Simplesmente significa que, diariamente ia aumentando o
número dos membros da igreja cristã primitiva, na proporção em que o Senhor
acrescentava-lhe mais e mais convertidos. Assim sendo, qualquer que seja o
ponto de vista, dentre os enunciados acima, que aceitemos como tradução dessa
frase grega, no fim, chegaremos à mesma ideia geral sobre o sentido deste
versículo. (Quanto às traduções referidas neste comentário, para efeito de
comparação — catorze ao todo, nove em inglês e cinco português).
A tradução inglesa KJ emprestou a este versículo a tonalidade
calvinista, traduzindo-o por «...aqueles que deveriam ser salvos...», como se
por detrás da questão do acréscimo de membros à igreja, por parte do Senhor,
houvesse um decreto divino. Naturalmente outras passagens bíblicas subentendem
exatamente isso (ver o primeiro capítulo da epístola aos Efésios); porém, isso
não é tradução correta, neste caso. A tradução correta é, realmente, como diz
nossa versão portuguesa, usada como base do comentário, «...os que iam sendo
salvos». O particípio presente passivo não tem aquele sentido, posto ser assim
a gramática grega neste ponto particular. O fato de que oSenhor acrescentava
aqueles novos membros, sem dúvida alguma serve de indicação de sua divindade,
porquanto se faz aqui alusão a Jesus, o Cristo, como se costuma fazer alusão a
Deus, como quem cuida diretamente de todas as coisas.
NOTAS Bibliografia R. N. Champlin
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