ESTUDO BIBLICO EM ATOS DOS APOSTOLOS
A ação
do Espírito Santo através da Igreja
Em virtude das comemorações do centenário das Assembléias de
Deus no Brasil, a revista Lições Bíblicas, ao longo desse trimestre, buscará,
baseada no Livro de Atos dos Apóstolos, refletir a razão e as ações da Igreja
de Cristo em seus primórdios, comparando-as com a Igreja dos nossos dias. O comentarista
das lições é o pastor Claudionor de Andrade, conferencista, autor de várias
obras e gerente de Publicações da CPAD. Como poderá ser verificado, o término
abrupto do livro de Atos sugere que os dons e as manifestações espirituais,
como promessa do Senhor ressurreto, acompanharão a Igreja pelos séculos. Que
esse ano seja de profundas reflexões para a compreensão da razão da nossa
existência como Igreja de Cristo.
Certamente haveremos de nos convencer de que, à semelhança
daqueles dias, o Espírito Santo vem agindo na Igreja e através da Igreja,
levando-a a ser o sal de um século insípido e a luz de um mundo em trevas. Mas
não espere encontrar uma igreja sem problemas, conforme adverte-nos o pastor
inglês John Stott: “A leitura de Atos não deve levar-nos a uma idealização da
Igreja Primitiva, como se ela não possuísse nenhum defeito. Como veremos
adiante, ela tinha muitos”.
Sim, não encontraremos uma igreja perfeita, mas uma igreja
poderosa e militante que espalha o Evangelho de Cristo sem impedimento algum.
AUTORIA, DATA E TEMA
Em seu Evangelho, Lucas fez um relato fidedigno e metódico pondo
“em ordem a narração dos fatos”, diz ele, “que entre nós se cumpriram, segundo
nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio” (Lc 1.1,2).
Já em Atos dos Apóstolos, pôs-se ele a narrar a expansão da Igreja de Cristo.
Neste livro, Lucas atua também como o personagem que, de forma modesta,
oculta-se na humildade do pronome da primeira pessoa do plural (At 20.6,13,15;
21.16; 27.8).
Conheçamos, pois, mais alguns detalhes dos Atos dos Apóstolos
que devem ser conhecidos ainda, segundo F.B. Meyer, como “os Atos do Espírito
do Cristo que ascendeu ao céu”.
Autoria. Não possuímos
muitas informações acerca do autor de Atos dos Apóstolos. Sabemos apenas
tratar-se de um homem excepcional, culto e possuidor de um estilo literário de
impressionante grandeza. Haja vista o prólogo de seu evangelho escrito num
grego que se aproxima do clássico (Lc 1.1-4).
Lucas também era médico (Cl 4.14). E mui amado por todos.
Pelo que depreendemos de sua obra, veio ele a converter-se
depois da ascensão do Senhor Jesus. A partir da segunda viagem missionária de
Paulo, encontramo-lo a participar ativamente da evangelização dos gentios (At
16.10).
Data de composição. Lucas
concluiu os Atos dos Apóstolos entre os anos 61-63. Portanto, antes da execução
de Paulo e bem antes da destruição de Jerusalém pelos romanos. Historiador
consciencioso que era, jamais deixaria de mencionar ambos os fatos, houvesse
ele escrito o livro após o ano 70. Acerca da historiografia lucana,
manifesta-se A. N. Sherwin-White, emérito professor de história da Universidade
de Oxford: “Para o autor de Atos, a confirmação da historicidade dos fatos é fundamental”.
Tema. Podemos resumir
assim o tema central dos Atos dos Apóstolos: A expansão triunfal do Evangelho
de Cristo através da Igreja no poder do Espírito Santo.
O CONTEÚDO DE ATOS DOS
APÓSTOLOS
Assim podemos dividir o conteúdo de Atos dos Apóstolos: Eventos
Pré-pentecostais (At 1); Evento Pentecostal (At 2); A expansão do Evangelho em
Jerusalém (At 3-7); A expansão do Evangelho na Judeia e Samaria (At 8-12); A
expansão do Evangelho entre os gentios (At 13-28). As divisões de Atos dos
Apóstolos acompanham a ordem de Jesus em Atos 1.8.
Eventos pré-pentecostais.
Dois foram os principais eventos que precederam a descida do Espírito Santo no
Dia de Pentecostes: a ascensão de Cristo e a escolha de Matias como ocupante do
posto desprezado por Judas Iscariotes.
a) A ascensão de Cristo. A subida do Cristo ressurreto e
glorioso ao céu, como veremos na próxima lição, não foi um artifício mitológico
criado por Lucas, mas um fato histórico comprovado e testemunhado por centenas
de pessoas (At 1.15; 1 Co 15.6).
b) A eleição de Matias. A escolha do substituto do Iscariotes
tem de ser encarada como um capítulo importantíssimo da História da Igreja
Cristã. Além do mais, foi o próprio Espírito Santo quem constrangeu a Pedro a
presidir a reunião que culminou com a designação de Matias. A Igreja não
poderia ser inaugurada com o colégio apostólico incompleto (At 1.15-20).
Evento Pentecostal.
Estando o Cristo já à destra do Pai e a vacância de Judas preenchida por
Matias, só faltava mesmo a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos, para
que a Igreja fosse inaugurada como a agência por excelência do Reino de Deus. O
fato está registrado em Atos capítulo dois. Na terceira lição, estaremos a
discorrer com mais vagar sobre o evento.
Eventos missionários.
Lucas narra, com precisão, seis eventos missionários que mostram como a Igreja
de Cristo expande-se de Jerusalém aos confins da terra: a expansão em
Jerusalém, a expansão na Judeia e Samaria e a expansão entre os gentios,
compreendendo as quatro viagens missionárias de Paulo.
a) A expansão em Jerusalém. Nenhum líder judeu poderia imaginar
que, logo após a morte do Senhor Jesus, a Igreja Cristã, inaugurada no
Pentecostes, esparramar-se-ia tão celeremente por toda Jerusalém. No Sermão do
Pentecostes, quase três mil almas agregaram-se aos fiéis (At 2.41). Mais
adiante, o número já sobe para quase cinco mil (At 4.4). Daí em diante,
multiplicou-se tanto o número de conversos que até mesmo não poucos sacerdotes
obedeciam a fé (At 6.7).
b) A expansão da Igreja na Judeia e Samaria. A morte de Estêvão
foi apenas o início de uma perseguição que culminaria com a diáspora da igreja
hebreia. Os irmãos, espalhados que foram pela arbitrariedade das autoridades
judaicas, iam semeando a Palavra de Deus por toda a Judeia até chegar a desprezada
Samaria (At 8.1-25). Nessa fase, destaca-se como evangelista o que fora
escolhido como diácono: Filipe (At 8.5).
c) A expansão da Igreja entre os gentios. Se na parte inicial de
Atos, a figura proeminente é Pedro, na segunda parte destacar-se-á Saulo de
Tarso como o grande campeão de Cristo que, em três viagens missionárias, levou
o Evangelho ao extremo ocidental do mundo então conhecido sem impedimento algum
(At 13-28).
O PROPÓSITO DE ATOS DOS
APÓSTOLOS
O livro de Atos dos Apóstolos foi escrito com o propósito de
narrar e justificar a expansão universal da Igreja de Cristo no poder do
Espírito Santo. É o seu intento também estimular os crentes de todas as
gerações a prosseguir na universalização do Reino de Deus até a volta de
Cristo.
Narrar a expansão da
Igreja. Como a Igreja de Cristo, inaugurada pelo Espírito Santo em Jerusalém,
veio a tornar-se na universal e invisível assembléia dos santos? Foi justamente
para responder a esta pergunta que Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos.
Metódica e sistematicamente, mostra ele como a Igreja transcendeu as fronteiras
da Judeia para universalizar-se nos confins da terra (At 1.1-15).
A justificar os Atos dos
Apóstolos. De maneira sutil, porém bastante evidente, Lucas destaca o
mandamento do Cristo que justifica não apenas a expansão da Igreja como a sua
universalização: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir
sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Evangelizar e fazer missões é a
nossa obrigação.
Estimular aos crentes. Ao
encerrar os Atos dos Apóstolos, deixa Lucas bem patente a todos nós que aqueles
atos não foram encerrados com a prisão de Paulo em Roma, mas acham-se abertos e
livres para que evangelizemos e façamos missões até a volta de Jesus sem
impedimento algum.
Atos dos Apóstolos.“Os capítulos iniciais do Livro de Atos
definem os alicerces do explosivo crescimento da jovem igreja. Por cerca de
quarenta dias os discípulos foram ensinados, por Jesus, sobre ‘o Reino de Deus’
e sua responsabilidade de difundir a mensagem de Jesus ‘até aos confins da
terra’ (1.1-8). A ascensão visível de Cristo ao céu foi seguida por um breve
período de espera, durante o qual os discípulos escolheram um fiel seguidor de
Jesus para assumir o lugar de Judas Iscariotes (1.9-26). Esta espera terminou
no dia de Pentecostes.
[Os] primeiros capítulos de Atos apresentam os temas que
percorrem todas as epístolas do Novo Testamento, e são vitais para nós hoje. O
primeiro tema é o Espírito Santo. Sua vinda inaugura a igreja [...]. O segundo
tema é a evangelização. Os primeiros cristãos são levados a proclamarem o
Senhor [...]. O terceiro motivo é a comunhão. Os membros da jovem igreja são
unidos por comprometimento compartilhado com Jesus. Eles adoram, estudam,
repartem e oram juntos, em unidade que inspira profundo carinho de uns pelos
outros. Embora devamos encarar o Livro de Atos como documento descritivo que
retrata o que aconteceu no século I, em lugar de encará-lo como um documento
prescritivo que nos instrui sobre como devemos viver hoje, estes três temas nos
lembram de como dependência do Espírito, paixão pela evangelização e
comprometimento com a comunhão são vitais para qualquer pessoa que procure
seguir a Jesus Cristo em nossa época”.(RICHARDS, L. O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2007, pp.251-2)
A Eclesiologia em Lucas.“No pensamento de Lucas, a Igreja
relaciona-se com algumas coisas antigas e novas. Ela está ligada às coisas
antigas porque compartilha as promessas feitas e entrega essa mensagem ao
mundo. Ela está ligada às coisas novas porque é uma estrutura totalmente nova
por meio da qual, agora, Deus opera. Os apóstolos proclamavam nas sinagogas que
Jesus é o cumprimento da Lei do Antigo Testamento, portanto, todo judeu que
respondia as promessas devia vir a Jesus. A argumentação dos apóstolos era que
o fim natural do judaísmo encontrava-se em Jesus. No início de Atos dos
Apóstolos, os apóstolos não parecem considerar que foram chamados a se separar
de Israel. Eles iam ao Templo e se reuniam lá (At 3.1-10; 4.1,2; 5.12). A
prática deles era sensível em relação às preocupações judaicas (15.1-35;
21.17-26). [...] Até mesmo quando Paulo deixou os judeus para ir aos gentios,
ele ainda ia à sinagoga, ou ao Templo, das cidades que viajava (13.46 — 14.1;
18.6 com 21.26) [...] Os judeus que ouviam Paulo ficavam informados que eles,
para seguir até o fim seu compromisso com Deus, tinham de abraçar a mensagem da
promessa inaugurada e se tornar membros da nova comunidade. Entretanto, os
eventos forçaram a Igreja a se separar do Judaísmo, por causa da rejeição
judaica. Como resultado disso, a Igreja emergiu como uma comunidade
independente da sinagoga.
Lucas via essa comunidade que surgia como algo novo. Por isso,
em At 11.15, Pedro, ao se referir aos eventos de 2.1-4, usa a expressão ‘ao
princípio’. Agora, nos termos lucanos, ela é o início da realização da
promessa, conforme as declarações de Pedro relacionadas com a primeira
distribuição do Espírito (At 2.14-36) [...]. Assim, o surgimento da Igreja teve
sua origem na vinda do Espírito Santo. Atos 11.15-18 torna a concessão do
Espírito o marco inicial dessa nova era e desse novo grupo de fiéis. Lucas
explica como esse grupo torna-se distinto do judaísmo e, mesmo assim, tem o
direito de proclamar as promessas que costumam pertencer exclusivamente às
sinagogas. Deus está presente nessa nova comunidade. Em Atos 11, o ponto
adicional a respeito desse novo grupo é que Deus incluiu os gentios nesse
círculo de bênçãos com sua intervenção direta (vv.11-18). Em Atos 2, os eventos
da fundação da igreja fazem paralelo com os eventos da casa de Cornélio,
registrados em Atos 10.1 – 11.18, mostrando, sem deixar a menor sombra de
dúvida, que Deus agiu para incluir os gentios”.(ZUCK, R. et al. Teologia do
Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2008, pp.156-57)
A ascensão
de Cristo e a promessa de sua vinda
Jesus Cristo de Nazaré é apresentado nos Evangelhos de Mateus,
Marcos, Lucas (Sinóticos) e João como muito mais que um rabino judeu, um grande
professor ou um ousado profeta do século I. Os quatro evangelistas afirmaram
que Jesus Cristo é o tão esperado Messias de Israel, o seu Libertador e o Deus
encarnado! Dessas afirmações, denota-se a seguinte sentença: “Toda a humanidade
será julgada um dia, com base nas suas respostas a este Jesus” (Jo 1.1-14 cf.
8.12-19). Qual Jesus lhe foi apresentado? O que está morto ou o ressurreto? A
resposta, positiva ou negativa, a essas questões é fundamental para determinar
em que a sua fé está baseada. Nossa oração é que ela esteja no “Cristo, o Filho
do Deus vivo”(Mt 16.16).
O Cristianismo só é possível quando se recebe, como verdade
absoluta e irrecorrível, todos os fatos da História da Salvação. Os que buscam
subtrair o sobrenatural da Bíblia Sagrada, considerando-o um mero recurso
literário, atentam-lhe contra a origem divina. Por conseguinte, se não
aceitarmos a História Sagrada na íntegra, seremos forçados, por uma questão de
lógica e congruência, a rejeitá-la por inteiro.
No campo da teologia bíblica, não se pode dissociar o dogma da
verdade histórica: aquele sem esta não passa de um mito. Por conseguinte, só é
possível acreditar no Jesus Histórico se recebermos como verdade inquestionável
tanto a sua concepção virginal como a sua ressurreição e ascensão física aos
céus, onde está à destra de Deus. Na teologia autenticamente bíblica, não se
pode separar o Cristo Histórico do Cristo anunciado na mensagem dos apóstolos.
A HISTORICIDADE DA ASCENSÃO DE CRISTO
A ascensão de Cristo, por conseguinte, não pode ficar
circunscrita ao dogma teológico; é teologia e dogma, mas é também um fato
histórico incontestável. Lucas deixa bem claro que a sua narrativa é baseada em
provas incontestáveis (At 1.3).
Data da ascensão. De maneira geral, aceita-se que o Senhor Jesus
foi assunto aos céus no ano 34 de nossa era. As pequenas divergências
cronológicas não desmerecem nem desacreditam o fato histórico (Mc 16.6; At
2.32; 1 Ts 4.14).
Lugar da ascensão. Jesus
encontrava-se no Monte das Oliveiras com os seus discípulos quando ascendeu aos
céus. Situado a leste de Jerusalém, a 818 metros em relação ao nível do mar,
acha-se este monte intimamente ligado à vida e ao ministério Cristo.
As testemunhas da
ascensão. Depreende-se que aproximadamente 120 pessoas hajam presenciado a
ascensão de nosso Senhor (At 1.15). Quanto à sua ressurreição, afirma Paulo,
foi testemunhada por mais de quinhentos irmãos, a maioria dos quais ainda vivia
quando Paulo escreveu a sua Primeira Epístola aos Coríntios (1 Co 15.6,7). Quem
poderia, num tribunal, contestar o depoimento de tantas testemunhas? Aliás,
segundo a Bíblia, a declaração de duas ou três testemunhas oculares já era mais
do que suficiente para encerrar qualquer polêmica (Dt 17.6; 19.15; Mt 18.16; 1
Tm 5.19).
A TEOLOGICIDADE DA
ASCENSÃO DE CRISTO
No âmbito da Teologia Cristã, primeiro temos o fato, depois, o
dogma. Doutra forma, repetimos, não teríamos uma doutrina, mas uma
inconsistência histórico-teológica. Eis que podemos confiar no ensino da
ascensão de nosso Senhor. Vejamos, em primeiro lugar, o que é a ascensão de
Cristo.
Ascensão de Cristo.
Subida corpórea e física do Cristo ressurreto e glorioso aos céus, para junto
do Pai, após haver cumprido o seu ministério terreno. Sua ascensão foi, de
fato, corpórea, porque a sua ressurreição foi física e não aparente. É claro
que o seu corpo, à semelhança do que ocorrera no Monte da Transfiguração, foi elevado
aos céus já revestido de glória, poder e celestialidade. Quando do
arrebatamento, teremos um corpo semelhante (1 Co 15.50-58; 1 Jo 3.2).
Teologicamente, a ascensão de Cristo acha-se ligada a duas
importantes doutrinas: a paracletologia e a escatologia.
A perspectiva
paracletológica. Antes de ascender aos céus, prometeu o Senhor Jesus aos
discípulos, ainda preocupados com a restauração do Reino de Israel, que seriam
eles revestidos pelo Espírito Santo (At 1.8). Aos que buscavam a libertação
política de um país, o Rei dos reis entrega, como herança, todas as nações da
terra. Não mais um império na terra, mas o Reino de Deus no mundo. E isso no
poder do Espírito Santo.
A perspectiva
escatológica. A narrativa da ascensão de Cristo traz, em si, o cerne da
escatologia cristã. A sua subida aos céus é uma consequência teológica tanto de
sua morte quanto de sua ressurreição. E acreditar nesta implica, para o
cristão, esperançar-se no retorno do Senhor que, estrugida a última trombeta,
ressuscitará os que nEle morreram e os que nEle vivem (1 Ts 4.14-17).
A sua ascensão foi sucedida por uma declaração escatológica. Aos
discípulos que, maravilhados, observavam a elevação do Filho de Deus, prometem
os dois seres angelicais: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu?
Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como
para o céu o vistes ir” (At 1.11).
A ASCENSÃO DE CRISTO EM
NOSSA DEVOÇÃO
Além de sua beleza e sublimidade teológica, a ascensão de Nosso
Senhor Jesus Cristo enleva-nos a devoção, estreitando-nos a comunhão com o
Senhor. Vejamos, pois, alguns fatores devocionais que nos proporcionam o Cristo
que ascendeu aos céus.
A posição do Cristo que
ascendeu. Ascendido às alturas sob os olhares interrogativos e desolados de seus
discípulos e apóstolos, o Senhor Jesus assentou-se à destra do Pai. Ao
registrar-lhe a ascensão, o evangelista Marcos garante tratar-se não de um
engenho fantasioso, mas de um evento histórico: “Ora, o Senhor, depois de lhes
ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus” (Mc 16.19).
Vários autores sagrados fazem menção ao acontecimento (At 2.33; 7.56; Hb 10.12;
12.2; 1 Pe 3.22).
Cristo está à destra de Deus. Alegremo-nos. Junto ao
Todo-Poderoso encontra-se um que nos compreende. À nossa semelhança, Ele sabe o
que é padecer (Is 53.3). Eis porque está sempre a interceder por nós como o
Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4). Não se desespere, Cristo
o compreende.
A eficácia salvífica do Cristo que ascendeu aos céus. À destra
de Deus, o Senhor Jesus atua como o mediador da nova aliança firmada em seu
sangue, através da qual obtivemos eterna salvação (Hb 5.9). Sim, somente em seu
nome é que o ser humano logra a redenção de sua alma, como reafirmou o apóstolo
Pedro: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12).
À destra de Deus, o Senhor Jesus salva e justifica o pecador,
proporcionando-lhe a bem-aventurança de ser adotado pelo Pai como filho (Rm
5.1; Ef 1.5).
Cristo assunto, nosso Advogado. Consola-nos saber que, à destra
de Deus, temos um advogado sempre pronto a defender-nos as causas junto ao Juiz
de toda a terra. Eis como o discípulo do amor descreve essa função do Senhor:
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém
pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a
propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos
de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2).
Se você pecou, não se desespere. Arrependa-se e confie no
Advogado que temos, junto, ao Pai.A ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo é um
fato comprovadamente histórico. Como é bom saber que, junto ao trono do
Todo-Poderoso, temos um intercessor e advogado sempre pronto a interceder por
nós. Amém! E um dia, mais rápido do que supomos, virá o Senhor arrebatar-nos,
para que estejamos sempre com Ele nos céus ao lado do Pai. Amém!
“A Teologia da
Ressurreição de Cristo.Soteriologia da ressurreição. Para que o pecado do homem
seja expiado, deve haver uma vida perfeita de justiça, vivida em completa
obediência à santa lei de Deus, para ser oferecida ‘sem mácula’. Cristo
realizou esta importante obra através de sua vida (Rm 5.19; 10.4; Hb 4.15;
5.8,9). [...] Deus mostrou sua absoluta satisfação com a obediência ativa e
passiva de Cristo, ressuscitando o seu Filho dos mortos, e assim atestando que
sua obra que visava alcançar a nossa justificação foi aprovada e aceita (Rm
4.25).
Escatologia da ressurreição. A ressurreição revela a vitória
completa e final sobre a morte e o pecado, e sobre os seus efeitos no homem e
na criação. Pelo fato de Cristo ter ressuscitado, os crentes também
ressuscitarão em corpos transformados (1 Co 15). Por meio deste mesmo fato, a
natureza também será libertada da maldição. Esta é a explicação da ressurreição
do crente ou a manifestação dos filhos de Deus através da ‘redenção do nosso
corpo’, e a remoção da ‘servidão da corrupção’ na segunda vinda de Cristo serem
mencionados como ocorrendo simultaneamente em Romanos 8.18-23”.(Dicionário
Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009, p.1669)
“A Ressurreição.Além de 1
Coríntios 15, há mais de uma dúzia de outras referências à ressurreição de
Cristo nas incontestáveis epístolas paulinas, escritas antes dos anos 50 (Rm
4.24,25; 6.4,9; 8.11,34; 10.9; 1 Co 6.14; 2 Co 4.14; 5.15; Gl 1.1; 1 Ts 1.10;
etc). Em segundo lugar, não há alternativa que explique adequadamente por que
os primeiros cristãos judeus (isto é, não apenas gentios) alteraram o seu dia
de adoração de sábado para domingo, especialmente quando a sua lei fazia da
adoração no sábado (Sabbath) um dos Dez Mandamentos invioláveis (Êx 20.8-11).
Alguma coisa objetiva, assombrosamente significativa e com data de alguma manhã
de domingo em particular deve ter gerado a mudança. Em terceiro lugar, em uma
cultura em que o testemunho das mulheres era frequentemente inadmissível em um
tribunal, quem inventaria um ‘mito’ relacionado à fundação, em que todas as
primeiras testemunhas de um evento difícil de crer eram mulheres? Em quarto
lugar, os relatos contidos do Novo Testamento diferem dramaticamente das
bizarras descrições apócrifas da ressurreição, inventadas no século II e
depois. Em quinto lugar, nos primeiros séculos do cristianismo, nenhum sepulcro
jamais foi venerado, separando a resposta cristã à morte do seu fundador de
praticamente todas as outras religiões da história da humanidade. Finalmente, o
que teria levado os primeiros cristãos judeus a rejeitar a interpretação que
lhes foi dada como herança de Deuteronômio 21.23, de que o Messias crucificado,
pela própria natureza da sua morte, demonstrou que Ele estava se colocando em
uma posição de maldição diante de Deus? Novamente, é mais fácil crer em um
evento aceito como sobrenatural do que tentar explicar todos estes fatos
estranhos através de alguma outra lógica”.(BLOMBERG, C. L. Questões Cruciais do
Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2010, pp.66-67)
O derramamento do
Espírito Santo no Pentecostes
A plenitude do Espírito Santo é chamada de “a promessa do Pai”.
Há muitas promessas no texto bíblico, mas esta promessa específica tem a ver
diretamente com o derramamento do Santo Espírito. Profetas como Ezequiel
(39.29), Joel (2.28), Isaías (32.15; 44.3) e João Batista (Mt 3.11; Lc 3.16),
proclamaram, durante seus ministérios, um futuro derramamento do Espírito Santo
sobre a casa de Israel, e sobre toda a carne, como o evento que marcaria os
últimos dias. Essa promessa foi corroborada pelo Rei dos reis e o maior de
todos os profetas: Jesus Cristo (At 1.4-8).
Atualmente diversos estudiosos, com pressupostos cessacionistas,
negam o batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial de falar em outras
línguas, bem como a atualidade dos dons espirituais. Porém, as supostas provas
apresentadas por eles não se sustentam ante a hermenêutica bíblica. No
Centenário das Assembléias de Deus no Brasil, urge reafirmarmos este artigo de
fé que nos tem caracterizado desde Daniel Berg e Gunnar Vingren: “Cremos na
atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais” Como não
admitir uma realidade bíblico-teológica tão evidente? E como desprezar a
experiência de milhões de crentes que, desde o Pentecostes, vêm recebendo o
batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial e física do falar em
outras línguas?
O BATISMO COM O ESPÍRITO
SANTO
O teólogo pentecostal inglês, Donald Gee (1891-1966),
testemunha-nos acerca de sua experiência pentecostal: “Um louvor crescente
afluia agora em minha alma, até que comecei a falar em outras línguas
publicamente. Cantava muito em línguas. Toda a minha experiência cristã foi
revolucionada”. Mas o que é o batismo com o Espírito Santo?
O batismo com o Espírito
Santo. Prometido pelo Senhor Jesus Cristo, o batismo com o Espírito Santo é o
revestimento de poder que nos introduz numa nova dimensão espiritual,
habilitando-nos a proclamar o evangelho com mais eficácia, a devotar a Deus um
amor mais ardente e sacrifical e a ter uma vida mais santa e irrepreensível (Lc
24.49; At 1.8).
A evidência inicial e
física do batismo com o Espírito Santo. O batismo com o Espírito Santo é
evidenciado pelo falar noutras línguas. Lucas realça o fato em pelo menos três
ocasiões distintas (At 2.1-3; 10.45-48; 19.1-7).
FUNDAMENTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Ao contrário do que supõem os inimigos da Obra Pentecostal, o
batismo com o Espírito Santo não é uma prática destituída de doutrina; acha-se
assentada num forte e inamovível fundamento bíblico-teológico. Os escritores do
Antigo e do Novo Testamento referem-se ao derramamento do Santo Espírito nestes
últimos dias que começaram no Pentecostes.
Moisés. Pressionado pelos
encargos de sua missão, Moisés queixa-se a Deus para que o alivie daquele
insuportável fardo (Nm 11.24,25). Responde-lhe o Senhor, então, que haverá de
repartir-lhe o Espírito entre setenta varões idôneos e incorruptíveis.
E os setenta puseram-se a profetizar, inclusive Eldade e Medade,
que se encontravam fora do arraial. Josué, porém, já enciumado pelo profeta,
fez-lhe uma recomendação carente de oportunidade acerca de ambos: “Senhor meu,
Moisés, proíbe-lho” (Nm 11.28). Voltando-se para seu valoroso servo, o servo de
Jeová repreendeu-o: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do SENHOR
fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.29).
Nesta passagem de Números, os israelitas já podiam ter um
vislumbre, embora pálido, do que seria o Pentecostes.
Isaías. Conhecido como o evangelista do Antigo Testamento,
Isaías vaticina a efusão do Espírito Santo: “Porque derramarei água sobre o
sedento e rios, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua
posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes” (Is 44.3).
Joel. Ele recebe o justo
epíteto de profeta pentecostal, descerra a História da Salvação e mostra a
descida do Espírito Santo como a inauguração do período conhecido como os
derradeiros dias: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre
toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos
terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Há de ser que todo aquele que
invocar o nome do SENHOR será salvo” (Jl 2.28,32a).
João Batista. O predecessor de Nosso Senhor Jesus Cristo prediz
o batismo com o Espírito Santo: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o
arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou
digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo” (Mt 3.11).
Jesus. O Filho de Deus
promete a efusão do Espírito: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se
ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse
ele), de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós
sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At
1.4,5).
O BATISMO NO ESPÍRITO
SANTO NA HISTÓRIA DA IGREJA
O batismo com o Espírito Santo não é um modismo teológico nem
uma criação eclesial do Século 20. É uma promessa feita pelo Pai, ratificada
pelo Filho e operada pelo Consolador. A história da Igreja Cristã mostra que,
do Pentecostes em Jerusalém, aos dias de hoje, houve continuidade na
dispensação dessa tão inefável promessa.
Eis o testemunho de Agostinho (354-430): “Nós faremos o que os
apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o
Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas
línguas”.
Poderíamos citar outros testemunhos. Mas falta-nos espaço. O que
diremos de Lutero? Wesley? Finney?
OS OBJETIVOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
William W. Menzies, um dos mais notáveis teólogos das
Assembléias de Deus dos Estados Unidos, leciona acerca da experiência
pentecostal: “O batismo com o Espírito Santo permite-nos experimentar uma
plenitude espiritual (Jo 7.37-39; At 4.8), uma reverência mais profunda por
Deus (At 2.43; Hb 12.28) e uma intensa consagração por Cristo, por sua Palavra
e pelos perdidos” (Mc 16.20).
Poder e unção a fim de
proclamar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. O evangelista, missionário
e teólogo metodista Stanley Jones é incisivo (1884-1973): “A vida do cristão
começa no Calvário, mas o trabalho eficiente, no Pentecostes”.
Os apóstolos do Cordeiro, antes do Pentecostes, andavam de
timidez em timidez. Já revestidos de poder, correram a alcançar Jerusalém, a
Judeia e os confins da terra com o evangelho. E o que diremos de Daniel Berg e
Gunnar Vingren que, intrépida e corajosamente, percorreram o Brasil empunhando
a flama pentecostal? (At 1.8).
Reverência diante das coisas de Deus. A efusão do Espírito Santo
levou os discípulos, agora como Igreja, a devotar uma reverência ainda maior ao
Senhor Jesus Cristo: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão,
e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios
e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42,43).
O autêntico avivamento pentecostal plenifica nossa reverência a
Deus.
A experimentação da
plenitude espiritual. Não podemos conformar-nos com a nossa vida espiritual.
Deus tem muito mais a dar-nos, conforme promete o Senhor Jesus: “Se alguém tem
sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de
água viva correrão do seu ventre. E isso disse Ele do Espírito, que haviam de
receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por
ainda Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7.37-39).
“Falar em Línguas (Glossolalia)
‘Glossolalia’ é um termo técnico freqüentemente utilizado para o
falar em línguas; é uma forma combinada das palavras gregaslalia (‘discurso’,
‘fala’) e glossa (‘língua’, ‘linguagem’). O fenômeno de falar em línguas, ao
contrário do vento e do fogo, é integral para os discípulos que são cheios do
Espírito. ‘E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras
línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia a verbalização inspirada’ (At
2.4 — [tradução do autor]).
O registro diz que os discípulos ‘começaram [archomai] a falar
noutras línguas’ (At 2.4). Não existe indicação de que os discípulos tenham
iniciado, ou de que eles mesmos ‘começaram’ o falar em línguas. [...] O
significado de ‘eles começaram a falar em línguas’ é simplesmente ‘eles falaram
em línguas’. [...] Os discípulos em Pentecostes falaram em línguas ‘conforme o
Espírito ia dando-lhes verbalização inspirada’ [tradução do autor], não sob o
próprio ímpeto deles. A expressão ‘conforme’ (kathos) pode ser traduzida como ‘na
medida em que’ (Ver Mc 16.17; At 2.4; 10.46; 19.6; 1 Co 12.10,28,30; 13.8;
14.2,4-6,13,14,18,19,22,23,26)”.(PALMA, A. D. O Batismo no Espírito Santo e Com
Fogo. Os Fundamentos Bíblicos e a Atualidade da Doutrina Pentecostal.1.ed. RJ:
CPAD, 2002, pp.61-63)
O Testemunho Pessoal de Donald Gee.“[...] numa noite de
quarta-feira, em março de 1913, toquei órgão no culto de meio de semana na
igreja Congregacional (que terminava às 21h pontualmente), e depois corri para
desfrutar do restante da reunião de Highbury New Park. Depois do término da
reunião (aproximadamente às 22h30min), o irmão que vinha dirigindo o culto, um
respeitável pastor irlandês, colocou-me à prova numa espécie de catecismo.
— Tem certeza da salvação?
— Sim.
— Já é batizado? — Sim.
— Já é batizado com o Espírito Santo?
— Não.
— E por que não?
Expliquei-lhe minha aversão a ‘esperas’ que pareciam uma
eternidade. Ele incentivou-me dizendo que isso não era necessário. E, abrindo
sua Bíblia, leu para mim Lucas 11.13, e depois Marcos 11.24. Então perguntou-me
se eu acreditava nesses versículos. Garanti-lhe que sim e, no momento em que
demonstrei-lhe minha fé, era como se Deus jorrasse do Céu para o interior do
meu coração, uma certeza absoluta de que essas promessas estavam sendo
realmente cumpridas em mim. [...]
Desde aquele instante, minha alegria e satisfação foram
intensas, [...]. Experimentei uma nova plenitude acima das palavras, e descobri
que tornava-me cada vez mais difícil adequar à minha voz todo o louvor
existente em minha alma. Essa situação continuou durante duas semanas
aproximadamente [...].
Um louvor crescente afluía agora em minha alma, também nas
reuniões, até que comecei a falar em outras línguas publicamente. Cantava muito
em línguas também quando a pequena congregação era levada pelo Espírito Santo a
esse fim durante nossos momentos de oração e adoração. Toda minha experiência
cristã foi revolucionada. Eu não procurava mais aqui e ali por uma satisfação
espiritual — eu a havia encontrado. Todo meu prazer estava na oração, no estudo
da Bíblia e nos irmãos em Cristo. Isso aconteceu apenas seis semanas antes do
meu casamento, e um velho pastor batista, que veio para tentar questionar-me
sobre minha recente bênção, teve de admitir que nunca havia conhecido um rapaz
tão próximo de um acontecimento feliz, e ainda assim tão interessado nas coisas
espirituais. Minha esposa, felizmente, sentia tudo da mesma forma que eu; e nós
nos alegrávamos juntos”.(GEE, D. Como receber o Batismo no Espírito Santo.
Vivendo e testemunhando com poder. 1.ed. CPAD, 2001, pp.13-15)
Comunhão
na Igreja
Um dos sinais da atuação do Espírito Santo na Igreja Primitiva
era a comunhão entre os seus membros. Mais que oferecer parte ou o todo dos
bens que possuíam, os cristãos mantinham-se unidos por um vínculo comum: eles
pertenciam ao corpo místico de Cristo — a Igreja de Deus. A comunhão faz da
Igreja um organismo espiritual perfeito de homens e mulheres que, apesar de
suas procedências étnicas e diversidades culturais, sentem-se e agem como
irmãos. Somente seremos reconhecidos como filhos de Deus se cuidarmos uns dos
outros e mutuamente nos socorrermos.
A comunhão levou aqueles crentes a partilharem o que tinham,
abrindo as portas para a atuação do Espírito Santo. Assim, ia o Senhor
acrescentando o número dos santos tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria
até os confins daquelas terras.
A COMUNHÃO DOS SANTOS
A comunhão observada na Igreja de Cristo não é um mero fenômeno
social. É o resultado da ação direta do Espírito Santo na vida daqueles que
recebem a Jesus como o seu único e suficiente Salvador (Ef 2.19). É uma
comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da congregação dos filhos de
Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se fossem um só homem (Jz
20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível, no Espírito Santo
e assim estará para todo o sempre.
O que é a comunhão. A
comunhão é o “vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que
leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo” (Dicionário
Teológico, CPAD). A palavra grega koinonia traz a ideia de cooperação e
relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão da Igreja Primitiva era
completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas também reuniram-se para
socorrer os mais necessitados.
A comunhão de sua igreja tem como modelo os cristãos de
Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento social?
A unidade do corpo de Cristo. Eis um dos mais preciosos
capítulos da doutrina da Igreja: sua unidade. O apóstolo Paulo tinha uma
perfeita compreensão desse mistério (Ef 4.1-7). Somente pelo Espírito Santo
podemos compreender a unidade de judeus, árabes, gregos e bárbaros que, apesar
de suas diferenças culturais e étnicas, não apenas sentem-se e agem como
irmãos, mas acham-se espiritualmente vinculados num só corpo pela ação direta e
distintiva do Espírito Santo.
Cada membro, neste corpo, tem uma função específica, mas todos
trabalham pelo bem comum: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo
também” (1 Co 12.12). Quando um de seus membros sofre, todos sofrem com ele.
Por isso, preocupamo-nos uns com os outros e mutuamente nos socorremos (Ef
4.1-6). Você tem preservado a unidade do Corpo de Cristo? Ou tem promovido
divisões e dissensões entre os santos?
A comunhão da Igreja
agrada a Deus. Deus quer e exige que seu povo permaneça unido (1 Co 1.10). Em
sua oração sacerdotal, o Senhor Jesus roga ao Pai pela unidade de seus
discípulos (Jo 17.11). Portanto, se mantemos o vínculo da comunhão, agradamos a
Deus (Ef 4.3). Sim, esse é o vínculo da perfeição que tem como base o amor,
conforme ensina o apóstolo Paulo: “com toda humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4.2).
A COMUNHÃO CRISTÃ CARACTERIZA-SE PELA UNIDADE
A comunhão cristã constitui-se num grande mistério. É algo que a
própria sociologia não pode explicar. Nem o próprio Israel de Deus, no Antigo
Testamento, logrou alcançar tamanha perfeição e excelência. Aliás, as
diferenças entre as doze tribos tornou-lhes impossível a unidade (1 Rs
12.1-16). Vejamos, pois, em que consistia a comunhão da Igreja Primitiva. Que
este seja o nosso modelo até que o Cristo de Deus venha buscar-nos.
Unidade doutrinária. Não
pode haver perfeita união sem unidade doutrinária. Informa-nos Lucas que os
cristãos primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Não era
uma doutrina qualquer; tratava-se do ensinamento emanado do colégio apostólico
constituído pelo Senhor Jesus Cristo. Paulo, ao discorrer sobre o mistério do
corpo de Cristo, fala de uma só fé (Ef 4.5) que deve ser preservada zelosamente
pelos santos (Jd v.3).
Na autêntica comunhão cristã, por conseguinte, não há lugar para
heresias nem apostasias. Estejamos, pois, sempre alertas. Nestes últimos dias,
muitos aparecerão em nosso meio dissimulando suas inverdades doutrinárias, com
o único intuito de destruir a comunhão dos santos (2 Ts 2.3; 2 Pe 2.1).
Unidade na própria comunhão. A unidade doutrinária conduz a uma
comunhão perfeita. Isto significa que não pode haver genuína comunhão cristã
com dois ou três pensamentos teológicos díspares e contrastantes. As seitas
aparecem quando um indivíduo, ou grupo, apresenta uma doutrina contrária aos
profetas e apóstolos de Nosso Senhor. Lembra-se da doutrina de Balaão? (Jd
v.11; Ap 2.14). E dos ensinos de Jezabel? (Ap 2.20). Muitos são os que
mergulham nas profundezas de Satanás e apresentam-se como especialistas no
conhecimento de Deus (Ap 2.24).
Se quisermos, portanto, uma comunhão perfeita, lutemos por
manter a sã doutrina. A heresia causa divisão. Ou melhor: a heresia em si já é
uma divisão. Esta recomendação de Paulo não deve ser esquecida: “Ao homem
herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3.10).
Unidade no partir do pão.
Os crentes primitivos mantinham uma comunhão tão intensa entre si que se
reuniam com alegria e singeleza de coração para celebrar a Santa Ceia. Era o
seu “partir do pão” (At 2.42). Eles em Cristo e Cristo em cada um deles. Pode
haver comunhão mais plena? Não era simplesmente uma cerimônia; era a festa na
qual lembravam a morte e ressurreição de Jesus — a expressão mais sublime do
amor divino.
Voltemos a participar, ou melhor, a celebrar a Santa Ceia como a
reunião mais importante e solene da Igreja. Todas as vezes que nos congregamos
com essa finalidade, lembramo-nos de que Cristo morreu e ressuscitou e
certificamo-nos de que, em breve, virá Ele arrebatar-nos.
Unidade nas orações.
Informa-nos Lucas, também, que a comunhão da igreja Primitiva tinha como base a
oração. O autor sagrado é enfático: “e nas orações” (At 2.42). Isto significa
que as reuniões de clamor e intercessão eram-lhes frequentes e poderosas. Haja
vista que, certa ocasião, a força da oração daqueles santos chegou a abalar a
estrutura do prédio em que estavam reunidos (At 4.31). Sem oração, a comunhão
da Igreja perde a sua força e influência. Sua igreja é uma comunidade de clamor
e intercessão? Ela ainda move o coração de Deus? É hora de clamar!
OS FRUTOS DA COMUNHÃO CRISTÃ
Estes são os frutos gerados pela comunhão cristã, conforme facilmente
depreendemos da leitura do capítulo dois de Atos dos Apóstolos:
Temor a Deus. A
verdadeira comunhão frutifica, na vida da igreja como um todo e na vida de cada
crente em particular, um santo temor a Deus. Lucas destaca: “Em cada alma havia
temor” (At 2.43). E o temor a Deus, como todos sabemos, é o princípio do saber
(Pv 1.7).
Quando os crentes temem e amam a Deus, a igreja mostra-se sabia
não apenas diante do Senhor, mas também do mundo. Ainda há temor a Deus em seu
coração?
Sinais e maravilhas. Pentecostais
que somos, acreditamos piamente que Deus ainda opera sinais e maravilhas entre
o seu povo. Mas, para que isso ocorra, é urgente que vivamos uma perfeita
comunhão com o Pai e com cada um de seus filhos. Lucas realça que, na Igreja
Primitiva, o sobrenatural era algo bastante natural entre os crentes: “e muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). O segredo? A
comunhão.
Assistência social. Uma igreja que cultiva a verdadeira comunhão
cristã não permitirá que nenhum de seus membros passe necessidade. Eis o que
testemunha o autor sagrado: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em
comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada
um tinha necessidade” (At 2.44,45). Não se tratava de um comunismo cristão, mas
da autêntica comunhão que o Espírito Santo nos esparge na alma. O comunismo só
espalha o medo, a miséria e o ateísmo. A Igreja de Cristo não precisa dessa
ideologia para socorrer os seus membros; ela tem o amor de Deus.
Crescimento. Uma igreja
que cultiva a comunhão e não se acha dividida só tem a crescer: “[...] E todos
os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At
2.47b). A Igreja como a agência por excelência do Reino de Deus não pode ficar
estagnada. Haverá de crescer local e universalmente.
Adoração. A Igreja Primitiva era também uma comunidade de
adoração “louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo” (At 2.47). Sim, a
Igreja que louva a Deus jamais deixará de ser reconhecida, até mesmo por seus
inimigos, como um povo especial. Voltemos ao altar da verdadeira adoração.
Louvemos a Deus com salmos e hinos. Abramos a Harpa Cristã e celebremos os grandes
atos de Deus.
Sua igreja cultiva a verdadeira comunhão? É hora de voltarmos ao
cenáculo e reviver os tempos de refrigério e avivamento. Somente uma igreja que
experimenta a verdadeira comunhão com Cristo e com os seus membros em
particular, sobreviverá nestes tempos difíceis e trabalhosos. O Espírito Santo
quer operar em nosso meio. Mas só o fará se estivermos vivendo a genuína
comunhão cristã.
“No Pentecostes, depois
da vinda do Espírito Santo, o grupo de 120 explodiu! Em um dia três mil pessoas
adotaram a fé, e passaram a servir a Cristo. Elas foram agregadas à igreja,
isto é, imediatamente se uniram à comunhão de crentes. Os três mil novos
crentes se reuniram com os outros como eles, pessoas de pensamento e fé
semelhantes. Lucas ressaltou a natureza cotidiana das reuniões da igreja. Os
crentes se reuniam tanto no templo ([...]), como em casa, para o partir do pão
e, supostamente, para comunhão, para darem atenção às necessidades e para a
prática da oração. Uma má interpretação comum sobre os primeiros cristãos (que
eram judeus) era que eles rejeitavam a religião judaica. Mas estes crentes
viram a mensagem e a ressurreição de Jesus como o cumprimento de tudo o que
eles conheciam, e do Antigo Testamento e em que criam. A princípio, os crentes
de origem judaica não se separaram do restante da comunidade judaica. Eles
ainda iam ao Templo e às sinagogas para adorarem e aprenderem mais sobre as
Escrituras. Mas a sua fé em Jesus Cristo criou um grande atrito com os judeus
que não acreditavam que Jesus fosse o Messias. Assim, os crentes judeus eram
forçados a se reunirem nas suas casas para compartilharem as suas orações e os
ensinos a respeito de Cristo. No final do século I, muitos desses crentes
judeus foram excomungados das suas sinagogas”.(Comentário do Novo Testamento
Aplicação Pessoal. Vol.1. RJ: CPAD, 2009, pp.632-34)
“A Comunhão dos Santos na Bíblia
A comunhão dos santos é uma expressão teológica e historicamente
forte. Quer na comunidade de Israel, quer na Igreja Primitiva, seu conceito não
é um mero casuísmo; é uma prática que leva o povo de Deus a sentir-se como um
só corpo”.“A comunhão dos Santos em Israel.Nos momentos de emergência nacional,
levantavam-se os hebreus como um só homem. Isto mostra que, se um israelita
sofria, os demais padeciam; se uma tribo via-se em perigo, as outras sentiam-se
ameaçadas. A fim de manter o seu povo unido, suscitava-lhe o Senhor líderes
carismáticos como Gideão e Davi.
O amor entre os israelitas era realçado na Lei e nos Profetas.
Os hebreus, por exemplo, não podiam emprestar com usura para seus irmãos.
Quando da colheita, eram obrigados a deixar, aos mais pobres, as respigas. Foi
o que aconteceu a moabita Rute.
Quando a comunhão dos santos em Israel era quebrantada,
instalava-se a injustiça social, a opressão e a violência. Para conter todas
essas misérias, erguia Deus os seus profetas que, madrugando, repreendiam os
injustos, buscando reconduzi-los aos princípios da Lei de Moisés”.
“A Comunhão dos santos em o Novo Testamento
Ao retratar a comunhão entre os santos, escreve o português
Camilo Castelo Branco: ‘O amor de Deus é inseparável do amor do próximo. É
impossível no coração humano o incêndio suavíssimo do amor de Deus, quando o
grito da miséria não desperta no coração a mágoa das aflições do próximo’.Mais
adiante, acrescenta Camilo: ‘Vede como eles se amam diziam os pagãos, quando a
sociedade cristã repartia seus haveres em comunas, onde grande despojado de
suas galas, vinham sentar-se ao lado dos pobres, vestido de uma mesma túnica, e
nutrido por um semelhante quinhão nos ágapes da caridade’.
Sem a comunhão dos santos não pode haver cristianismo. Aliás,
protestou alguém certa vez: ‘O amor é a única forma de nos sentirmos realmente
cristãos’. Todos os escritores do Novo Testamento, a exemplo do Salvador,
realçaram a comunhão dos santos.No Sermão do Monte, ensinou Jesus os seus
discípulos a se amarem uns aos outros; doutra forma: não seriam contados entre
os seus seguidores”.(ANDRADE, C. As Disciplinas da Vida Cristã. RJ: CPAD, 2008,
pp.117-19)
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