sexta-feira, 3 de outubro de 2014

LIVRO DE ATOS P.1

ESTUDO BIBLICO EM ATOS DOS APOSTOLOS

                   A ação do Espírito Santo através da Igreja

Em virtude das comemorações do centenário das Assembléias de Deus no Brasil, a revista Lições Bíblicas, ao longo desse trimestre, buscará, baseada no Livro de Atos dos Apóstolos, refletir a razão e as ações da Igreja de Cristo em seus primórdios, comparando-as com a Igreja dos nossos dias. O comentarista das lições é o pastor Claudionor de Andrade, conferencista, autor de várias obras e gerente de Publicações da CPAD. Como poderá ser verificado, o término abrupto do livro de Atos sugere que os dons e as manifestações espirituais, como promessa do Senhor ressurreto, acompanharão a Igreja pelos séculos. Que esse ano seja de profundas reflexões para a compreensão da razão da nossa existência como Igreja de Cristo.

Certamente haveremos de nos convencer de que, à semelhança daqueles dias, o Espírito Santo vem agindo na Igreja e através da Igreja, levando-a a ser o sal de um século insípido e a luz de um mundo em trevas. Mas não espere encontrar uma igreja sem problemas, conforme adverte-nos o pastor inglês John Stott: “A leitura de Atos não deve levar-nos a uma idealização da Igreja Primitiva, como se ela não possuísse nenhum defeito. Como veremos adiante, ela tinha muitos”.
Sim, não encontraremos uma igreja perfeita, mas uma igreja poderosa e militante que espalha o Evangelho de Cristo sem impedimento algum.

 AUTORIA, DATA E TEMA

Em seu Evangelho, Lucas fez um relato fidedigno e metódico pondo “em ordem a narração dos fatos”, diz ele, “que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio” (Lc 1.1,2). Já em Atos dos Apóstolos, pôs-se ele a narrar a expansão da Igreja de Cristo. Neste livro, Lucas atua também como o personagem que, de forma modesta, oculta-se na humildade do pronome da primeira pessoa do plural (At 20.6,13,15; 21.16; 27.8).
Conheçamos, pois, mais alguns detalhes dos Atos dos Apóstolos que devem ser conhecidos ainda, segundo F.B. Meyer, como “os Atos do Espírito do Cristo que ascendeu ao céu”.
 Autoria. Não possuímos muitas informações acerca do autor de Atos dos Apóstolos. Sabemos apenas tratar-se de um homem excepcional, culto e possuidor de um estilo literário de impressionante grandeza. Haja vista o prólogo de seu evangelho escrito num grego que se aproxima do clássico (Lc 1.1-4).
Lucas também era médico (Cl 4.14). E mui amado por todos.
Pelo que depreendemos de sua obra, veio ele a converter-se depois da ascensão do Senhor Jesus. A partir da segunda viagem missionária de Paulo, encontramo-lo a participar ativamente da evangelização dos gentios (At 16.10).
 Data de composição. Lucas concluiu os Atos dos Apóstolos entre os anos 61-63. Portanto, antes da execução de Paulo e bem antes da destruição de Jerusalém pelos romanos. Historiador consciencioso que era, jamais deixaria de mencionar ambos os fatos, houvesse ele escrito o livro após o ano 70. Acerca da historiografia lucana, manifesta-se A. N. Sherwin-White, emérito professor de história da Universidade de Oxford: “Para o autor de Atos, a confirmação da historicidade dos fatos é fundamental”.
 Tema. Podemos resumir assim o tema central dos Atos dos Apóstolos: A expansão triunfal do Evangelho de Cristo através da Igreja no poder do Espírito Santo.

 O CONTEÚDO DE ATOS DOS APÓSTOLOS

Assim podemos dividir o conteúdo de Atos dos Apóstolos: Eventos Pré-pentecostais (At 1); Evento Pentecostal (At 2); A expansão do Evangelho em Jerusalém (At 3-7); A expansão do Evangelho na Judeia e Samaria (At 8-12); A expansão do Evangelho entre os gentios (At 13-28). As divisões de Atos dos Apóstolos acompanham a ordem de Jesus em Atos 1.8.
 Eventos pré-pentecostais. Dois foram os principais eventos que precederam a descida do Espírito Santo no Dia de Pentecostes: a ascensão de Cristo e a escolha de Matias como ocupante do posto desprezado por Judas Iscariotes.
a) A ascensão de Cristo. A subida do Cristo ressurreto e glorioso ao céu, como veremos na próxima lição, não foi um artifício mitológico criado por Lucas, mas um fato histórico comprovado e testemunhado por centenas de pessoas (At 1.15; 1 Co 15.6).
b) A eleição de Matias. A escolha do substituto do Iscariotes tem de ser encarada como um capítulo importantíssimo da História da Igreja Cristã. Além do mais, foi o próprio Espírito Santo quem constrangeu a Pedro a presidir a reunião que culminou com a designação de Matias. A Igreja não poderia ser inaugurada com o colégio apostólico incompleto (At 1.15-20).
 Evento Pentecostal. Estando o Cristo já à destra do Pai e a vacância de Judas preenchida por Matias, só faltava mesmo a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos, para que a Igreja fosse inaugurada como a agência por excelência do Reino de Deus. O fato está registrado em Atos capítulo dois. Na terceira lição, estaremos a discorrer com mais vagar sobre o evento.
 Eventos missionários. Lucas narra, com precisão, seis eventos missionários que mostram como a Igreja de Cristo expande-se de Jerusalém aos confins da terra: a expansão em Jerusalém, a expansão na Judeia e Samaria e a expansão entre os gentios, compreendendo as quatro viagens missionárias de Paulo.
a) A expansão em Jerusalém. Nenhum líder judeu poderia imaginar que, logo após a morte do Senhor Jesus, a Igreja Cristã, inaugurada no Pentecostes, esparramar-se-ia tão celeremente por toda Jerusalém. No Sermão do Pentecostes, quase três mil almas agregaram-se aos fiéis (At 2.41). Mais adiante, o número já sobe para quase cinco mil (At 4.4). Daí em diante, multiplicou-se tanto o número de conversos que até mesmo não poucos sacerdotes obedeciam a fé (At 6.7).
b) A expansão da Igreja na Judeia e Samaria. A morte de Estêvão foi apenas o início de uma perseguição que culminaria com a diáspora da igreja hebreia. Os irmãos, espalhados que foram pela arbitrariedade das autoridades judaicas, iam semeando a Palavra de Deus por toda a Judeia até chegar a desprezada Samaria (At 8.1-25). Nessa fase, destaca-se como evangelista o que fora escolhido como diácono: Filipe (At 8.5).
c) A expansão da Igreja entre os gentios. Se na parte inicial de Atos, a figura proeminente é Pedro, na segunda parte destacar-se-á Saulo de Tarso como o grande campeão de Cristo que, em três viagens missionárias, levou o Evangelho ao extremo ocidental do mundo então conhecido sem impedimento algum (At 13-28).

 O PROPÓSITO DE ATOS DOS APÓSTOLOS

O livro de Atos dos Apóstolos foi escrito com o propósito de narrar e justificar a expansão universal da Igreja de Cristo no poder do Espírito Santo. É o seu intento também estimular os crentes de todas as gerações a prosseguir na universalização do Reino de Deus até a volta de Cristo.
 Narrar a expansão da Igreja. Como a Igreja de Cristo, inaugurada pelo Espírito Santo em Jerusalém, veio a tornar-se na universal e invisível assembléia dos santos? Foi justamente para responder a esta pergunta que Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos. Metódica e sistematicamente, mostra ele como a Igreja transcendeu as fronteiras da Judeia para universalizar-se nos confins da terra (At 1.1-15).
 A justificar os Atos dos Apóstolos. De maneira sutil, porém bastante evidente, Lucas destaca o mandamento do Cristo que justifica não apenas a expansão da Igreja como a sua universalização: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Evangelizar e fazer missões é a nossa obrigação.
 Estimular aos crentes. Ao encerrar os Atos dos Apóstolos, deixa Lucas bem patente a todos nós que aqueles atos não foram encerrados com a prisão de Paulo em Roma, mas acham-se abertos e livres para que evangelizemos e façamos missões até a volta de Jesus sem impedimento algum.
Atos dos Apóstolos.“Os capítulos iniciais do Livro de Atos definem os alicerces do explosivo crescimento da jovem igreja. Por cerca de quarenta dias os discípulos foram ensinados, por Jesus, sobre ‘o Reino de Deus’ e sua responsabilidade de difundir a mensagem de Jesus ‘até aos confins da terra’ (1.1-8). A ascensão visível de Cristo ao céu foi seguida por um breve período de espera, durante o qual os discípulos escolheram um fiel seguidor de Jesus para assumir o lugar de Judas Iscariotes (1.9-26). Esta espera terminou no dia de Pentecostes.
[Os] primeiros capítulos de Atos apresentam os temas que percorrem todas as epístolas do Novo Testamento, e são vitais para nós hoje. O primeiro tema é o Espírito Santo. Sua vinda inaugura a igreja [...]. O segundo tema é a evangelização. Os primeiros cristãos são levados a proclamarem o Senhor [...]. O terceiro motivo é a comunhão. Os membros da jovem igreja são unidos por comprometimento compartilhado com Jesus. Eles adoram, estudam, repartem e oram juntos, em unidade que inspira profundo carinho de uns pelos outros. Embora devamos encarar o Livro de Atos como documento descritivo que retrata o que aconteceu no século I, em lugar de encará-lo como um documento prescritivo que nos instrui sobre como devemos viver hoje, estes três temas nos lembram de como dependência do Espírito, paixão pela evangelização e comprometimento com a comunhão são vitais para qualquer pessoa que procure seguir a Jesus Cristo em nossa época”.(RICHARDS, L. O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2007, pp.251-2)
A Eclesiologia em Lucas.“No pensamento de Lucas, a Igreja relaciona-se com algumas coisas antigas e novas. Ela está ligada às coisas antigas porque compartilha as promessas feitas e entrega essa mensagem ao mundo. Ela está ligada às coisas novas porque é uma estrutura totalmente nova por meio da qual, agora, Deus opera. Os apóstolos proclamavam nas sinagogas que Jesus é o cumprimento da Lei do Antigo Testamento, portanto, todo judeu que respondia as promessas devia vir a Jesus. A argumentação dos apóstolos era que o fim natural do judaísmo encontrava-se em Jesus. No início de Atos dos Apóstolos, os apóstolos não parecem considerar que foram chamados a se separar de Israel. Eles iam ao Templo e se reuniam lá (At 3.1-10; 4.1,2; 5.12). A prática deles era sensível em relação às preocupações judaicas (15.1-35; 21.17-26). [...] Até mesmo quando Paulo deixou os judeus para ir aos gentios, ele ainda ia à sinagoga, ou ao Templo, das cidades que viajava (13.46 — 14.1; 18.6 com 21.26) [...] Os judeus que ouviam Paulo ficavam informados que eles, para seguir até o fim seu compromisso com Deus, tinham de abraçar a mensagem da promessa inaugurada e se tornar membros da nova comunidade. Entretanto, os eventos forçaram a Igreja a se separar do Judaísmo, por causa da rejeição judaica. Como resultado disso, a Igreja emergiu como uma comunidade independente da sinagoga.
Lucas via essa comunidade que surgia como algo novo. Por isso, em At 11.15, Pedro, ao se referir aos eventos de 2.1-4, usa a expressão ‘ao princípio’. Agora, nos termos lucanos, ela é o início da realização da promessa, conforme as declarações de Pedro relacionadas com a primeira distribuição do Espírito (At 2.14-36) [...]. Assim, o surgimento da Igreja teve sua origem na vinda do Espírito Santo. Atos 11.15-18 torna a concessão do Espírito o marco inicial dessa nova era e desse novo grupo de fiéis. Lucas explica como esse grupo torna-se distinto do judaísmo e, mesmo assim, tem o direito de proclamar as promessas que costumam pertencer exclusivamente às sinagogas. Deus está presente nessa nova comunidade. Em Atos 11, o ponto adicional a respeito desse novo grupo é que Deus incluiu os gentios nesse círculo de bênçãos com sua intervenção direta (vv.11-18). Em Atos 2, os eventos da fundação da igreja fazem paralelo com os eventos da casa de Cornélio, registrados em Atos 10.1 – 11.18, mostrando, sem deixar a menor sombra de dúvida, que Deus agiu para incluir os gentios”.(ZUCK, R. et al. Teologia do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2008, pp.156-57)

                A ascensão de Cristo e a promessa de sua vinda

Jesus Cristo de Nazaré é apresentado nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas (Sinóticos) e João como muito mais que um rabino judeu, um grande professor ou um ousado profeta do século I. Os quatro evangelistas afirmaram que Jesus Cristo é o tão esperado Messias de Israel, o seu Libertador e o Deus encarnado! Dessas afirmações, denota-se a seguinte sentença: “Toda a humanidade será julgada um dia, com base nas suas respostas a este Jesus” (Jo 1.1-14 cf. 8.12-19). Qual Jesus lhe foi apresentado? O que está morto ou o ressurreto? A resposta, positiva ou negativa, a essas questões é fundamental para determinar em que a sua fé está baseada. Nossa oração é que ela esteja no “Cristo, o Filho do Deus vivo”(Mt 16.16). 
O Cristianismo só é possível quando se recebe, como verdade absoluta e irrecorrível, todos os fatos da História da Salvação. Os que buscam subtrair o sobrenatural da Bíblia Sagrada, considerando-o um mero recurso literário, atentam-lhe contra a origem divina. Por conseguinte, se não aceitarmos a História Sagrada na íntegra, seremos forçados, por uma questão de lógica e congruência, a rejeitá-la por inteiro.
No campo da teologia bíblica, não se pode dissociar o dogma da verdade histórica: aquele sem esta não passa de um mito. Por conseguinte, só é possível acreditar no Jesus Histórico se recebermos como verdade inquestionável tanto a sua concepção virginal como a sua ressurreição e ascensão física aos céus, onde está à destra de Deus. Na teologia autenticamente bíblica, não se pode separar o Cristo Histórico do Cristo anunciado na mensagem dos apóstolos.

A HISTORICIDADE DA ASCENSÃO DE CRISTO

A ascensão de Cristo, por conseguinte, não pode ficar circunscrita ao dogma teológico; é teologia e dogma, mas é também um fato histórico incontestável. Lucas deixa bem claro que a sua narrativa é baseada em provas incontestáveis (At 1.3).
Data da ascensão. De maneira geral, aceita-se que o Senhor Jesus foi assunto aos céus no ano 34 de nossa era. As pequenas divergências cronológicas não desmerecem nem desacreditam o fato histórico (Mc 16.6; At 2.32; 1 Ts 4.14).
 Lugar da ascensão. Jesus encontrava-se no Monte das Oliveiras com os seus discípulos quando ascendeu aos céus. Situado a leste de Jerusalém, a 818 metros em relação ao nível do mar, acha-se este monte intimamente ligado à vida e ao ministério Cristo.
 As testemunhas da ascensão. Depreende-se que aproximadamente 120 pessoas hajam presenciado a ascensão de nosso Senhor (At 1.15). Quanto à sua ressurreição, afirma Paulo, foi testemunhada por mais de quinhentos irmãos, a maioria dos quais ainda vivia quando Paulo escreveu a sua Primeira Epístola aos Coríntios (1 Co 15.6,7). Quem poderia, num tribunal, contestar o depoimento de tantas testemunhas? Aliás, segundo a Bíblia, a declaração de duas ou três testemunhas oculares já era mais do que suficiente para encerrar qualquer polêmica (Dt 17.6; 19.15; Mt 18.16; 1 Tm 5.19).

 A TEOLOGICIDADE DA ASCENSÃO DE CRISTO

No âmbito da Teologia Cristã, primeiro temos o fato, depois, o dogma. Doutra forma, repetimos, não teríamos uma doutrina, mas uma inconsistência histórico-teológica. Eis que podemos confiar no ensino da ascensão de nosso Senhor. Vejamos, em primeiro lugar, o que é a ascensão de Cristo.
 Ascensão de Cristo. Subida corpórea e física do Cristo ressurreto e glorioso aos céus, para junto do Pai, após haver cumprido o seu ministério terreno. Sua ascensão foi, de fato, corpórea, porque a sua ressurreição foi física e não aparente. É claro que o seu corpo, à semelhança do que ocorrera no Monte da Transfiguração, foi elevado aos céus já revestido de glória, poder e celestialidade. Quando do arrebatamento, teremos um corpo semelhante (1 Co 15.50-58; 1 Jo 3.2).
Teologicamente, a ascensão de Cristo acha-se ligada a duas importantes doutrinas: a paracletologia e a escatologia.
 A perspectiva paracletológica. Antes de ascender aos céus, prometeu o Senhor Jesus aos discípulos, ainda preocupados com a restauração do Reino de Israel, que seriam eles revestidos pelo Espírito Santo (At 1.8). Aos que buscavam a libertação política de um país, o Rei dos reis entrega, como herança, todas as nações da terra. Não mais um império na terra, mas o Reino de Deus no mundo. E isso no poder do Espírito Santo.
 A perspectiva escatológica. A narrativa da ascensão de Cristo traz, em si, o cerne da escatologia cristã. A sua subida aos céus é uma consequência teológica tanto de sua morte quanto de sua ressurreição. E acreditar nesta implica, para o cristão, esperançar-se no retorno do Senhor que, estrugida a última trombeta, ressuscitará os que nEle morreram e os que nEle vivem (1 Ts 4.14-17).
A sua ascensão foi sucedida por uma declaração escatológica. Aos discípulos que, maravilhados, observavam a elevação do Filho de Deus, prometem os dois seres angelicais: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.11).

 A ASCENSÃO DE CRISTO EM NOSSA DEVOÇÃO

Além de sua beleza e sublimidade teológica, a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo enleva-nos a devoção, estreitando-nos a comunhão com o Senhor. Vejamos, pois, alguns fatores devocionais que nos proporcionam o Cristo que ascendeu aos céus.
 A posição do Cristo que ascendeu. Ascendido às alturas sob os olhares interrogativos e desolados de seus discípulos e apóstolos, o Senhor Jesus assentou-se à destra do Pai. Ao registrar-lhe a ascensão, o evangelista Marcos garante tratar-se não de um engenho fantasioso, mas de um evento histórico: “Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus” (Mc 16.19). Vários autores sagrados fazem menção ao acontecimento (At 2.33; 7.56; Hb 10.12; 12.2; 1 Pe 3.22).
Cristo está à destra de Deus. Alegremo-nos. Junto ao Todo-Poderoso encontra-se um que nos compreende. À nossa semelhança, Ele sabe o que é padecer (Is 53.3). Eis porque está sempre a interceder por nós como o Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4). Não se desespere, Cristo o compreende.
A eficácia salvífica do Cristo que ascendeu aos céus. À destra de Deus, o Senhor Jesus atua como o mediador da nova aliança firmada em seu sangue, através da qual obtivemos eterna salvação (Hb 5.9). Sim, somente em seu nome é que o ser humano logra a redenção de sua alma, como reafirmou o apóstolo Pedro: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12).
À destra de Deus, o Senhor Jesus salva e justifica o pecador, proporcionando-lhe a bem-aventurança de ser adotado pelo Pai como filho (Rm 5.1; Ef 1.5).
Cristo assunto, nosso Advogado. Consola-nos saber que, à destra de Deus, temos um advogado sempre pronto a defender-nos as causas junto ao Juiz de toda a terra. Eis como o discípulo do amor descreve essa função do Senhor: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2).
Se você pecou, não se desespere. Arrependa-se e confie no Advogado que temos, junto, ao Pai.A ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo é um fato comprovadamente histórico. Como é bom saber que, junto ao trono do Todo-Poderoso, temos um intercessor e advogado sempre pronto a interceder por nós. Amém! E um dia, mais rápido do que supomos, virá o Senhor arrebatar-nos, para que estejamos sempre com Ele nos céus ao lado do Pai. Amém!
 “A Teologia da Ressurreição de Cristo.Soteriologia da ressurreição. Para que o pecado do homem seja expiado, deve haver uma vida perfeita de justiça, vivida em completa obediência à santa lei de Deus, para ser oferecida ‘sem mácula’. Cristo realizou esta importante obra através de sua vida (Rm 5.19; 10.4; Hb 4.15; 5.8,9). [...] Deus mostrou sua absoluta satisfação com a obediência ativa e passiva de Cristo, ressuscitando o seu Filho dos mortos, e assim atestando que sua obra que visava alcançar a nossa justificação foi aprovada e aceita (Rm 4.25).
Escatologia da ressurreição. A ressurreição revela a vitória completa e final sobre a morte e o pecado, e sobre os seus efeitos no homem e na criação. Pelo fato de Cristo ter ressuscitado, os crentes também ressuscitarão em corpos transformados (1 Co 15). Por meio deste mesmo fato, a natureza também será libertada da maldição. Esta é a explicação da ressurreição do crente ou a manifestação dos filhos de Deus através da ‘redenção do nosso corpo’, e a remoção da ‘servidão da corrupção’ na segunda vinda de Cristo serem mencionados como ocorrendo simultaneamente em Romanos 8.18-23”.(Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009, p.1669)
 “A Ressurreição.Além de 1 Coríntios 15, há mais de uma dúzia de outras referências à ressurreição de Cristo nas incontestáveis epístolas paulinas, escritas antes dos anos 50 (Rm 4.24,25; 6.4,9; 8.11,34; 10.9; 1 Co 6.14; 2 Co 4.14; 5.15; Gl 1.1; 1 Ts 1.10; etc). Em segundo lugar, não há alternativa que explique adequadamente por que os primeiros cristãos judeus (isto é, não apenas gentios) alteraram o seu dia de adoração de sábado para domingo, especialmente quando a sua lei fazia da adoração no sábado (Sabbath) um dos Dez Mandamentos invioláveis (Êx 20.8-11). Alguma coisa objetiva, assombrosamente significativa e com data de alguma manhã de domingo em particular deve ter gerado a mudança. Em terceiro lugar, em uma cultura em que o testemunho das mulheres era frequentemente inadmissível em um tribunal, quem inventaria um ‘mito’ relacionado à fundação, em que todas as primeiras testemunhas de um evento difícil de crer eram mulheres? Em quarto lugar, os relatos contidos do Novo Testamento diferem dramaticamente das bizarras descrições apócrifas da ressurreição, inventadas no século II e depois. Em quinto lugar, nos primeiros séculos do cristianismo, nenhum sepulcro jamais foi venerado, separando a resposta cristã à morte do seu fundador de praticamente todas as outras religiões da história da humanidade. Finalmente, o que teria levado os primeiros cristãos judeus a rejeitar a interpretação que lhes foi dada como herança de Deuteronômio 21.23, de que o Messias crucificado, pela própria natureza da sua morte, demonstrou que Ele estava se colocando em uma posição de maldição diante de Deus? Novamente, é mais fácil crer em um evento aceito como sobrenatural do que tentar explicar todos estes fatos estranhos através de alguma outra lógica”.(BLOMBERG, C. L. Questões Cruciais do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2010, pp.66-67)

         O derramamento do Espírito Santo no Pentecostes

A plenitude do Espírito Santo é chamada de “a promessa do Pai”. Há muitas promessas no texto bíblico, mas esta promessa específica tem a ver diretamente com o derramamento do Santo Espírito. Profetas como Ezequiel (39.29), Joel (2.28), Isaías (32.15; 44.3) e João Batista (Mt 3.11; Lc 3.16), proclamaram, durante seus ministérios, um futuro derramamento do Espírito Santo sobre a casa de Israel, e sobre toda a carne, como o evento que marcaria os últimos dias. Essa promessa foi corroborada pelo Rei dos reis e o maior de todos os profetas: Jesus Cristo (At 1.4-8).
Atualmente diversos estudiosos, com pressupostos cessacionistas, negam o batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial de falar em outras línguas, bem como a atualidade dos dons espirituais. Porém, as supostas provas apresentadas por eles não se sustentam ante a hermenêutica bíblica. No Centenário das Assembléias de Deus no Brasil, urge reafirmarmos este artigo de fé que nos tem caracterizado desde Daniel Berg e Gunnar Vingren: “Cremos na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais” Como não admitir uma realidade bíblico-teológica tão evidente? E como desprezar a experiência de milhões de crentes que, desde o Pentecostes, vêm recebendo o batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial e física do falar em outras línguas?

 O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

O teólogo pentecostal inglês, Donald Gee (1891-1966), testemunha-nos acerca de sua experiência pentecostal: “Um louvor crescente afluia agora em minha alma, até que comecei a falar em outras línguas publicamente. Cantava muito em línguas. Toda a minha experiência cristã foi revolucionada”. Mas o que é o batismo com o Espírito Santo?
 O batismo com o Espírito Santo. Prometido pelo Senhor Jesus Cristo, o batismo com o Espírito Santo é o revestimento de poder que nos introduz numa nova dimensão espiritual, habilitando-nos a proclamar o evangelho com mais eficácia, a devotar a Deus um amor mais ardente e sacrifical e a ter uma vida mais santa e irrepreensível (Lc 24.49; At 1.8).
 A evidência inicial e física do batismo com o Espírito Santo. O batismo com o Espírito Santo é evidenciado pelo falar noutras línguas. Lucas realça o fato em pelo menos três ocasiões distintas (At 2.1-3; 10.45-48; 19.1-7).

FUNDAMENTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Ao contrário do que supõem os inimigos da Obra Pentecostal, o batismo com o Espírito Santo não é uma prática destituída de doutrina; acha-se assentada num forte e inamovível fundamento bíblico-teológico. Os escritores do Antigo e do Novo Testamento referem-se ao derramamento do Santo Espírito nestes últimos dias que começaram no Pentecostes.
 Moisés. Pressionado pelos encargos de sua missão, Moisés queixa-se a Deus para que o alivie daquele insuportável fardo (Nm 11.24,25). Responde-lhe o Senhor, então, que haverá de repartir-lhe o Espírito entre setenta varões idôneos e incorruptíveis.
E os setenta puseram-se a profetizar, inclusive Eldade e Medade, que se encontravam fora do arraial. Josué, porém, já enciumado pelo profeta, fez-lhe uma recomendação carente de oportunidade acerca de ambos: “Senhor meu, Moisés, proíbe-lho” (Nm 11.28). Voltando-se para seu valoroso servo, o servo de Jeová repreendeu-o: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.29).
Nesta passagem de Números, os israelitas já podiam ter um vislumbre, embora pálido, do que seria o Pentecostes.
Isaías. Conhecido como o evangelista do Antigo Testamento, Isaías vaticina a efusão do Espírito Santo: “Porque derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes” (Is 44.3).
 Joel. Ele recebe o justo epíteto de profeta pentecostal, descerra a História da Salvação e mostra a descida do Espírito Santo como a inauguração do período conhecido como os derradeiros dias: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Há de ser que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Jl 2.28,32a).
João Batista. O predecessor de Nosso Senhor Jesus Cristo prediz o batismo com o Espírito Santo: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
 Jesus. O Filho de Deus promete a efusão do Espírito: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele), de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.4,5).

 O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA DA IGREJA

O batismo com o Espírito Santo não é um modismo teológico nem uma criação eclesial do Século 20. É uma promessa feita pelo Pai, ratificada pelo Filho e operada pelo Consolador. A história da Igreja Cristã mostra que, do Pentecostes em Jerusalém, aos dias de hoje, houve continuidade na dispensação dessa tão inefável promessa.
Eis o testemunho de Agostinho (354-430): “Nós faremos o que os apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas línguas”.
Poderíamos citar outros testemunhos. Mas falta-nos espaço. O que diremos de Lutero? Wesley? Finney?


OS OBJETIVOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

William W. Menzies, um dos mais notáveis teólogos das Assembléias de Deus dos Estados Unidos, leciona acerca da experiência pentecostal: “O batismo com o Espírito Santo permite-nos experimentar uma plenitude espiritual (Jo 7.37-39; At 4.8), uma reverência mais profunda por Deus (At 2.43; Hb 12.28) e uma intensa consagração por Cristo, por sua Palavra e pelos perdidos” (Mc 16.20).
 Poder e unção a fim de proclamar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. O evangelista, missionário e teólogo metodista Stanley Jones é incisivo (1884-1973): “A vida do cristão começa no Calvário, mas o trabalho eficiente, no Pentecostes”.
Os apóstolos do Cordeiro, antes do Pentecostes, andavam de timidez em timidez. Já revestidos de poder, correram a alcançar Jerusalém, a Judeia e os confins da terra com o evangelho. E o que diremos de Daniel Berg e Gunnar Vingren que, intrépida e corajosamente, percorreram o Brasil empunhando a flama pentecostal? (At 1.8).
Reverência diante das coisas de Deus. A efusão do Espírito Santo levou os discípulos, agora como Igreja, a devotar uma reverência ainda maior ao Senhor Jesus Cristo: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42,43).
O autêntico avivamento pentecostal plenifica nossa reverência a Deus.
 A experimentação da plenitude espiritual. Não podemos conformar-nos com a nossa vida espiritual. Deus tem muito mais a dar-nos, conforme promete o Senhor Jesus: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse Ele do Espírito, que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7.37-39).
 “Falar em Línguas (Glossolalia)
‘Glossolalia’ é um termo técnico freqüentemente utilizado para o falar em línguas; é uma forma combinada das palavras gregaslalia (‘discurso’, ‘fala’) e glossa (‘língua’, ‘linguagem’). O fenômeno de falar em línguas, ao contrário do vento e do fogo, é integral para os discípulos que são cheios do Espírito. ‘E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia a verbalização inspirada’ (At 2.4 — [tradução do autor]).
O registro diz que os discípulos ‘começaram [archomai] a falar noutras línguas’ (At 2.4). Não existe indicação de que os discípulos tenham iniciado, ou de que eles mesmos ‘começaram’ o falar em línguas. [...] O significado de ‘eles começaram a falar em línguas’ é simplesmente ‘eles falaram em línguas’. [...] Os discípulos em Pentecostes falaram em línguas ‘conforme o Espírito ia dando-lhes verbalização inspirada’ [tradução do autor], não sob o próprio ímpeto deles. A expressão ‘conforme’ (kathos) pode ser traduzida como ‘na medida em que’ (Ver Mc 16.17; At 2.4; 10.46; 19.6; 1 Co 12.10,28,30; 13.8; 14.2,4-6,13,14,18,19,22,23,26)”.(PALMA, A. D. O Batismo no Espírito Santo e Com Fogo. Os Fundamentos Bíblicos e a Atualidade da Doutrina Pentecostal.1.ed. RJ: CPAD, 2002, pp.61-63)
O Testemunho Pessoal de Donald Gee.“[...] numa noite de quarta-feira, em março de 1913, toquei órgão no culto de meio de semana na igreja Congregacional (que terminava às 21h pontualmente), e depois corri para desfrutar do restante da reunião de Highbury New Park. Depois do término da reunião (aproximadamente às 22h30min), o irmão que vinha dirigindo o culto, um respeitável pastor irlandês, colocou-me à prova numa espécie de catecismo.
— Tem certeza da salvação?
— Sim.
— Já é batizado? — Sim.
— Já é batizado com o Espírito Santo?
— Não.
— E por que não?
Expliquei-lhe minha aversão a ‘esperas’ que pareciam uma eternidade. Ele incentivou-me dizendo que isso não era necessário. E, abrindo sua Bíblia, leu para mim Lucas 11.13, e depois Marcos 11.24. Então perguntou-me se eu acreditava nesses versículos. Garanti-lhe que sim e, no momento em que demonstrei-lhe minha fé, era como se Deus jorrasse do Céu para o interior do meu coração, uma certeza absoluta de que essas promessas estavam sendo realmente cumpridas em mim. [...]
Desde aquele instante, minha alegria e satisfação foram intensas, [...]. Experimentei uma nova plenitude acima das palavras, e descobri que tornava-me cada vez mais difícil adequar à minha voz todo o louvor existente em minha alma. Essa situação continuou durante duas semanas aproximadamente [...].
Um louvor crescente afluía agora em minha alma, também nas reuniões, até que comecei a falar em outras línguas publicamente. Cantava muito em línguas também quando a pequena congregação era levada pelo Espírito Santo a esse fim durante nossos momentos de oração e adoração. Toda minha experiência cristã foi revolucionada. Eu não procurava mais aqui e ali por uma satisfação espiritual — eu a havia encontrado. Todo meu prazer estava na oração, no estudo da Bíblia e nos irmãos em Cristo. Isso aconteceu apenas seis semanas antes do meu casamento, e um velho pastor batista, que veio para tentar questionar-me sobre minha recente bênção, teve de admitir que nunca havia conhecido um rapaz tão próximo de um acontecimento feliz, e ainda assim tão interessado nas coisas espirituais. Minha esposa, felizmente, sentia tudo da mesma forma que eu; e nós nos alegrávamos juntos”.(GEE, D. Como receber o Batismo no Espírito Santo. Vivendo e testemunhando com poder. 1.ed. CPAD, 2001, pp.13-15)

                                       Comunhão na Igreja

Um dos sinais da atuação do Espírito Santo na Igreja Primitiva era a comunhão entre os seus membros. Mais que oferecer parte ou o todo dos bens que possuíam, os cristãos mantinham-se unidos por um vínculo comum: eles pertenciam ao corpo místico de Cristo — a Igreja de Deus. A comunhão faz da Igreja um organismo espiritual perfeito de homens e mulheres que, apesar de suas procedências étnicas e diversidades culturais, sentem-se e agem como irmãos. Somente seremos reconhecidos como filhos de Deus se cuidarmos uns dos outros e mutuamente nos socorrermos.
A comunhão levou aqueles crentes a partilharem o que tinham, abrindo as portas para a atuação do Espírito Santo. Assim, ia o Senhor acrescentando o número dos santos tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria até os confins daquelas terras.

 A COMUNHÃO DOS SANTOS

A comunhão observada na Igreja de Cristo não é um mero fenômeno social. É o resultado da ação direta do Espírito Santo na vida daqueles que recebem a Jesus como o seu único e suficiente Salvador (Ef 2.19). É uma comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da congregação dos filhos de Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se fossem um só homem (Jz 20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível, no Espírito Santo e assim estará para todo o sempre.
 O que é a comunhão. A comunhão é o “vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo” (Dicionário Teológico, CPAD). A palavra grega koinonia traz a ideia de cooperação e relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão da Igreja Primitiva era completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas também reuniram-se para socorrer os mais necessitados.
A comunhão de sua igreja tem como modelo os cristãos de Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento social?
A unidade do corpo de Cristo. Eis um dos mais preciosos capítulos da doutrina da Igreja: sua unidade. O apóstolo Paulo tinha uma perfeita compreensão desse mistério (Ef 4.1-7). Somente pelo Espírito Santo podemos compreender a unidade de judeus, árabes, gregos e bárbaros que, apesar de suas diferenças culturais e étnicas, não apenas sentem-se e agem como irmãos, mas acham-se espiritualmente vinculados num só corpo pela ação direta e distintiva do Espírito Santo.
Cada membro, neste corpo, tem uma função específica, mas todos trabalham pelo bem comum: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também” (1 Co 12.12). Quando um de seus membros sofre, todos sofrem com ele. Por isso, preocupamo-nos uns com os outros e mutuamente nos socorremos (Ef 4.1-6). Você tem preservado a unidade do Corpo de Cristo? Ou tem promovido divisões e dissensões entre os santos?
 A comunhão da Igreja agrada a Deus. Deus quer e exige que seu povo permaneça unido (1 Co 1.10). Em sua oração sacerdotal, o Senhor Jesus roga ao Pai pela unidade de seus discípulos (Jo 17.11). Portanto, se mantemos o vínculo da comunhão, agradamos a Deus (Ef 4.3). Sim, esse é o vínculo da perfeição que tem como base o amor, conforme ensina o apóstolo Paulo: “com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4.2).

A COMUNHÃO CRISTÃ CARACTERIZA-SE PELA UNIDADE

A comunhão cristã constitui-se num grande mistério. É algo que a própria sociologia não pode explicar. Nem o próprio Israel de Deus, no Antigo Testamento, logrou alcançar tamanha perfeição e excelência. Aliás, as diferenças entre as doze tribos tornou-lhes impossível a unidade (1 Rs 12.1-16). Vejamos, pois, em que consistia a comunhão da Igreja Primitiva. Que este seja o nosso modelo até que o Cristo de Deus venha buscar-nos.
 Unidade doutrinária. Não pode haver perfeita união sem unidade doutrinária. Informa-nos Lucas que os cristãos primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Não era uma doutrina qualquer; tratava-se do ensinamento emanado do colégio apostólico constituído pelo Senhor Jesus Cristo. Paulo, ao discorrer sobre o mistério do corpo de Cristo, fala de uma só fé (Ef 4.5) que deve ser preservada zelosamente pelos santos (Jd v.3).
Na autêntica comunhão cristã, por conseguinte, não há lugar para heresias nem apostasias. Estejamos, pois, sempre alertas. Nestes últimos dias, muitos aparecerão em nosso meio dissimulando suas inverdades doutrinárias, com o único intuito de destruir a comunhão dos santos (2 Ts 2.3; 2 Pe 2.1).
Unidade na própria comunhão. A unidade doutrinária conduz a uma comunhão perfeita. Isto significa que não pode haver genuína comunhão cristã com dois ou três pensamentos teológicos díspares e contrastantes. As seitas aparecem quando um indivíduo, ou grupo, apresenta uma doutrina contrária aos profetas e apóstolos de Nosso Senhor. Lembra-se da doutrina de Balaão? (Jd v.11; Ap 2.14). E dos ensinos de Jezabel? (Ap 2.20). Muitos são os que mergulham nas profundezas de Satanás e apresentam-se como especialistas no conhecimento de Deus (Ap 2.24).
Se quisermos, portanto, uma comunhão perfeita, lutemos por manter a sã doutrina. A heresia causa divisão. Ou melhor: a heresia em si já é uma divisão. Esta recomendação de Paulo não deve ser esquecida: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3.10).
 Unidade no partir do pão. Os crentes primitivos mantinham uma comunhão tão intensa entre si que se reuniam com alegria e singeleza de coração para celebrar a Santa Ceia. Era o seu “partir do pão” (At 2.42). Eles em Cristo e Cristo em cada um deles. Pode haver comunhão mais plena? Não era simplesmente uma cerimônia; era a festa na qual lembravam a morte e ressurreição de Jesus — a expressão mais sublime do amor divino.
Voltemos a participar, ou melhor, a celebrar a Santa Ceia como a reunião mais importante e solene da Igreja. Todas as vezes que nos congregamos com essa finalidade, lembramo-nos de que Cristo morreu e ressuscitou e certificamo-nos de que, em breve, virá Ele arrebatar-nos.
 Unidade nas orações. Informa-nos Lucas, também, que a comunhão da igreja Primitiva tinha como base a oração. O autor sagrado é enfático: “e nas orações” (At 2.42). Isto significa que as reuniões de clamor e intercessão eram-lhes frequentes e poderosas. Haja vista que, certa ocasião, a força da oração daqueles santos chegou a abalar a estrutura do prédio em que estavam reunidos (At 4.31). Sem oração, a comunhão da Igreja perde a sua força e influência. Sua igreja é uma comunidade de clamor e intercessão? Ela ainda move o coração de Deus? É hora de clamar!

OS FRUTOS DA COMUNHÃO CRISTÃ

Estes são os frutos gerados pela comunhão cristã, conforme facilmente depreendemos da leitura do capítulo dois de Atos dos Apóstolos:
 Temor a Deus. A verdadeira comunhão frutifica, na vida da igreja como um todo e na vida de cada crente em particular, um santo temor a Deus. Lucas destaca: “Em cada alma havia temor” (At 2.43). E o temor a Deus, como todos sabemos, é o princípio do saber (Pv 1.7).
Quando os crentes temem e amam a Deus, a igreja mostra-se sabia não apenas diante do Senhor, mas também do mundo. Ainda há temor a Deus em seu coração?
 Sinais e maravilhas. Pentecostais que somos, acreditamos piamente que Deus ainda opera sinais e maravilhas entre o seu povo. Mas, para que isso ocorra, é urgente que vivamos uma perfeita comunhão com o Pai e com cada um de seus filhos. Lucas realça que, na Igreja Primitiva, o sobrenatural era algo bastante natural entre os crentes: “e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). O segredo? A comunhão.
Assistência social. Uma igreja que cultiva a verdadeira comunhão cristã não permitirá que nenhum de seus membros passe necessidade. Eis o que testemunha o autor sagrado: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade” (At 2.44,45). Não se tratava de um comunismo cristão, mas da autêntica comunhão que o Espírito Santo nos esparge na alma. O comunismo só espalha o medo, a miséria e o ateísmo. A Igreja de Cristo não precisa dessa ideologia para socorrer os seus membros; ela tem o amor de Deus.
 Crescimento. Uma igreja que cultiva a comunhão e não se acha dividida só tem a crescer: “[...] E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2.47b). A Igreja como a agência por excelência do Reino de Deus não pode ficar estagnada. Haverá de crescer local e universalmente.
Adoração. A Igreja Primitiva era também uma comunidade de adoração “louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo” (At 2.47). Sim, a Igreja que louva a Deus jamais deixará de ser reconhecida, até mesmo por seus inimigos, como um povo especial. Voltemos ao altar da verdadeira adoração. Louvemos a Deus com salmos e hinos. Abramos a Harpa Cristã e celebremos os grandes atos de Deus.

Sua igreja cultiva a verdadeira comunhão? É hora de voltarmos ao cenáculo e reviver os tempos de refrigério e avivamento. Somente uma igreja que experimenta a verdadeira comunhão com Cristo e com os seus membros em particular, sobreviverá nestes tempos difíceis e trabalhosos. O Espírito Santo quer operar em nosso meio. Mas só o fará se estivermos vivendo a genuína comunhão cristã.
 “No Pentecostes, depois da vinda do Espírito Santo, o grupo de 120 explodiu! Em um dia três mil pessoas adotaram a fé, e passaram a servir a Cristo. Elas foram agregadas à igreja, isto é, imediatamente se uniram à comunhão de crentes. Os três mil novos crentes se reuniram com os outros como eles, pessoas de pensamento e fé semelhantes. Lucas ressaltou a natureza cotidiana das reuniões da igreja. Os crentes se reuniam tanto no templo ([...]), como em casa, para o partir do pão e, supostamente, para comunhão, para darem atenção às necessidades e para a prática da oração. Uma má interpretação comum sobre os primeiros cristãos (que eram judeus) era que eles rejeitavam a religião judaica. Mas estes crentes viram a mensagem e a ressurreição de Jesus como o cumprimento de tudo o que eles conheciam, e do Antigo Testamento e em que criam. A princípio, os crentes de origem judaica não se separaram do restante da comunidade judaica. Eles ainda iam ao Templo e às sinagogas para adorarem e aprenderem mais sobre as Escrituras. Mas a sua fé em Jesus Cristo criou um grande atrito com os judeus que não acreditavam que Jesus fosse o Messias. Assim, os crentes judeus eram forçados a se reunirem nas suas casas para compartilharem as suas orações e os ensinos a respeito de Cristo. No final do século I, muitos desses crentes judeus foram excomungados das suas sinagogas”.(Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Vol.1. RJ: CPAD, 2009, pp.632-34)

                           “A Comunhão dos Santos na Bíblia

A comunhão dos santos é uma expressão teológica e historicamente forte. Quer na comunidade de Israel, quer na Igreja Primitiva, seu conceito não é um mero casuísmo; é uma prática que leva o povo de Deus a sentir-se como um só corpo”.“A comunhão dos Santos em Israel.Nos momentos de emergência nacional, levantavam-se os hebreus como um só homem. Isto mostra que, se um israelita sofria, os demais padeciam; se uma tribo via-se em perigo, as outras sentiam-se ameaçadas. A fim de manter o seu povo unido, suscitava-lhe o Senhor líderes carismáticos como Gideão e Davi.
O amor entre os israelitas era realçado na Lei e nos Profetas. Os hebreus, por exemplo, não podiam emprestar com usura para seus irmãos. Quando da colheita, eram obrigados a deixar, aos mais pobres, as respigas. Foi o que aconteceu a moabita Rute.
Quando a comunhão dos santos em Israel era quebrantada, instalava-se a injustiça social, a opressão e a violência. Para conter todas essas misérias, erguia Deus os seus profetas que, madrugando, repreendiam os injustos, buscando reconduzi-los aos princípios da Lei de Moisés”.
“A Comunhão dos santos em o Novo Testamento
Ao retratar a comunhão entre os santos, escreve o português Camilo Castelo Branco: ‘O amor de Deus é inseparável do amor do próximo. É impossível no coração humano o incêndio suavíssimo do amor de Deus, quando o grito da miséria não desperta no coração a mágoa das aflições do próximo’.Mais adiante, acrescenta Camilo: ‘Vede como eles se amam diziam os pagãos, quando a sociedade cristã repartia seus haveres em comunas, onde grande despojado de suas galas, vinham sentar-se ao lado dos pobres, vestido de uma mesma túnica, e nutrido por um semelhante quinhão nos ágapes da caridade’.
Sem a comunhão dos santos não pode haver cristianismo. Aliás, protestou alguém certa vez: ‘O amor é a única forma de nos sentirmos realmente cristãos’. Todos os escritores do Novo Testamento, a exemplo do Salvador, realçaram a comunhão dos santos.No Sermão do Monte, ensinou Jesus os seus discípulos a se amarem uns aos outros; doutra forma: não seriam contados entre os seus seguidores”.(ANDRADE, C. As Disciplinas da Vida Cristã. RJ: CPAD, 2008, pp.117-19)



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